15. another love

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(Esse capítulo é fora da linha do tempo da história. No próximo, voltaremos para a conversa da Nina e da Claire. Só achei que seria bem legal dar uma visão externa da situação).
(P.s.: pra todo mundo que apoia Remi e Claire... Esse é para vocês!)


Remi contava as garrafas de bebida que ficavam por trás do bar para passar o tempo. Recomeçava a conta toda vez que chegava no final de uma prateleira, com os olhos mais perdidos no rótulos do que em qualquer outro lugar. A cada minuto a contagem ficava mais difícil, na proporção exata que o bartender enchia seu copo com um Whisky caro.

Estava meio bêbado, mas ainda tinha consciência de quem era, de onde estava e dos fantasmas que assombravam sua cabeça. Seu objetivo era justamente esquecer tudo isso, mas sua tolerância para o álcool era alta. Ainda precisaria de muitas doses para que conseguisse aliviar o peso das suas costas.

Estava cansado também. Não dormia bem há algumas noites. Os treinos drenavam todo o resquício de energia que tinha para o dia. O resto ficava com as aulas — que ele mal marcava presença — e nas festas. Nas inúmeras festas que frequentava nos últimos meses.

Deveria ligar para Leo. Se tivesse algum amor próprio, seria isso que faria. Não demoraria nem dez minutos para Hawkins chegar no bar escuro do campus e o levar de volta para casa onde ele poderia tentar — pela primeira vez na semana — dormir em paz.

Não sabia exatamente como se sentia. Aquele sentimento novo, difícil e potente fora capaz de virar toda sua vida de ponta cabeça. Ele poderia estar em um quarto se divertindo com alguma garota nova, em um bar mal encarado fora do cidade ou se divertindo com seus amigos a poucos quilômetros dali. Podia estar fazendo qualquer coisa, na verdade. Mas nada mudaria aquilo. Nada mudaria os monstros que não esperavam a noite cair para assombrá-lo.

— Ei cara, espero não estar atrapalhando.

A voz fez com que Remi estremecesse. Ou seus reflexos já estavam alterados ou o homem que tinha ocupado o banquinho ao lado do seu tinha sido extremamente silencioso.

Deu de ombros, dando mais um gole no copo metade cheio que tinha em sua frente. Era bom com feições, reconheceu na hora que aquele cara era um dos interessados que participaram do tour de apresentação do campus que ele deu naquela tarde a pedido do seu pai. Remi não podia se importar menos, mas John insistiu ao dizer que a comissão de boas vindas seria algo bom para ele ter no currículo. E ele precisava de um bom currículo para chamar ainda mais atenção dos grandes times que já o rondavam.

— Fique a vontade — respondeu seco, voltando a contar as garrafas de bebida.

Agradeceu não ser ninguém conhecido. Costumava não dar a mínima para a opinião alheia, mas estava especialmente sensível naquela noite. Sabia que em algum lugar de Silvermount ela estaria comemorando seu aniversário, vestindo algo que a deixaria ainda mais bonita mas que nunca seria páreo a sua versão natural. Aquela que ele conhecia bem, pelas inúmeras vezes que se juntaram nos lençóis da sua casa.

O pensamento era doloroso. O que sua ausência naquela festa significava também. Ela tinha pedido — pela última vez, com lágrimas nos olhos — que Remi estivesse lá. Na festa que Liv — sua melhor amiga — tinha organizado para ela, no meio de vários rostos conhecidos e outros que ela queria que ele conhecesse.

Sorriu sozinho ao levar o copo aos lábios mais uma vez. Ela sempre fora assim, esperançosa. Talvez ainda não soubesse — naquela altura — que não podia mudá-lo. Não podia acabar com a agonia e todos os medos que ele guardava por baixo da pele em todos seus vinte e um anos de vida. Não podia lidar com toda a carga e os traumas que ele carregava em suas costas.

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