2- Back to december- Zac

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"Mel, tudo bem?" perguntei, tentando aterrissar suavemente ao seu lado na montanha-russa emocional em que ela parecia estar. Meu tom fazia malabarismos entre preocupação e suporte, quase caindo no abismo entre os dois.

"Estou... só..." ela tentou iniciar, com uma voz mais fina que a linha que separa o sarcasmo da sinceridade.

"Ah, o retorno triunfal dessa vontade, né?" murmurei, com a suavidade de um elefante tentando fazer balé. A realidade pesava em cada palavra, como se tentasse afundar o barco que mal estava flutuando.

Ela jurou que estava bem, mas seus olhos, tão expressivos quanto uma tela de pintura abstrata, narravam uma epopeia de lutas internas contra demônios que nem mesmo o Google poderia ajudar a identificar.

"E o que foi que te jogou nesse episódio de 'Dias de Nossas Vidas' desta vez?" perguntei, não querendo julgar, mas tentando abrir um diálogo mais eficaz que uma conferência de paz da ONU.

"Nada... Eu só..." Ela hesitou, como se estivesse tentando decifrar um enigma escrito em braille.

"Relaxa, estou aqui," assegurei, oferecendo um abraço que pretendia ser um porto seguro em meio à tempestade que ela enfrentava, algo entre um colete salva-vidas e um abraço de urso.

Quando ela retribuiu o abraço, foi um sinal de rendição e confiança, um breve momento de calmaria antes da próxima tempestade. Depois de garantir que ela adormecesse, a carreguei para a cama, cada passo um lembrete do tanto que ela pesava - em todos os sentidos.

Ao encontrar meu pai, era como se o próprio Drácula tivesse decidido dar as caras, representando a única faísca de normalidade na tempestade familiar. "E aí, Drácula... Digo, pai?" minha saudação tentava disfarçar a tensão acumulada.

"Zachary," ele iniciou, cada palavra carregada com o peso de um discurso real sobre o Brexit. "Devemos discutir os assuntos de Washington. Está ao seu alcance supervisionar Melissa?"

"Claro, será um prazer cuidar da nossa própria Amy Winehouse," retruquei, metade brincando, metade esperando que ele não me transformasse em pedra com o olhar.

Mudamos para temas mais delicados, cada um mais pesado que um jantar de Ação de Graças. Quando finalmente escapei, um alerta de Josh no celular ofereceu uma saída tão bem-vinda quanto um bote salva-vidas em pleno Titanic.

Cruzar com Alexia foi como adicionar mais um ingrediente a um coquetel já explosivo. A noite, em sua lentidão, parecia um filme noir sem fim, cada cigarro queimado um lembrete da presença fantasmagórica de Angeline.

Olhando para trás, não só o vazio da nossa casa, mas também o labirinto de sentimentos contraditórios me assombravam. Cada tragada era uma luta entre a ira por sua partida e a saudade que ela deixou para trás. A solidão do sofá, sob o manto da noite, era o cenário perfeito para minha introspecção, assistido por uma gata que julgava cada decisão minha como se fosse uma jurada de reality show.

À medida que a última bituca se juntava às outras, decidi que era hora de encarar esse mar de emoções, aceitar a dor e a perda como partes do processo de seguir em frente. A noite testemunhava esse momento de catarse, um primeiro passo hesitante rumo à cura.

Com a chegada do amanhecer e a promessa de um novo dia, a esperança surgia timidamente, indicando que talvez o futuro pudesse ser diferente. A dor e a raiva ainda marcavam presença, mas agora vinham acompanhadas de uma nova determinação de encontrar luz, mesmo nas sombras mais profundas da noite.

This Is How We Do ItWhere stories live. Discover now