29- Mercy- Zac

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 Aquela tinha sido a melhor noite de Ação de Graças que eu poderia ter imaginado. Passar um tempo com ela fez meu coração se encher de alegria, mesmo que eu estivesse segurando minha respiração o tempo todo, com medo de assustá-la como um gato arisco. Era sexta-feira, e apesar do meu receio, estava determinado a convidá-la para sair. Sabia que ela passaria pela minha casa depois da escola, e já tinha elaborado um roteiro meticuloso em minha mente. Nós conversaríamos com uma playlist ao fundo, repleta de músicas que eu havia escolhido com cuidado. Depois, jantaríamos, e finalmente a levaria para uma caminhada na praia. Sim, eu odiava a praia, mas nada como uma noite de lua cheia para fazer as coisas darem certo.


"Há quanto tempo não me sinto animado assim?" perguntei a mim mesmo. "Ela já sabe que eu gosto dela! O que poderia dar errado?"


Antes de dormir, solicitei o serviço de uma diarista. Não queria nada fora do lugar naquele apartamento. Meu dia passou como uma corrida de caramujos, lento e arrastado. Eu estava tão ansioso que meu corpo parecia gritar que algo ruim estava prestes a acontecer. Mesmo com meu peito clamando em ansiedade, eu não conseguia perceber.


Quando o interfone tocou, eu estava terminando de vestir a camisa. Dessa vez, o curativo estava limpo, sem vestígios de sangue. Não podia dar nada errado. Corri para a porta e aguardei ansiosamente pela campainha, abrindo-a com o maior sorriso que conseguia expressar.


" Oi, entra," disse, tentando não deixar minha empolgação transparecer demais. "Como foi o seu dia?"


" Oi," ela respondeu, claramente desanimada, fazendo uma pausa antes de continuar, "- foi... foi normal."


Nesse ponto, eu já deveria ter percebido os sinais e recuado, mas meu entusiasmo estava em um nível que não permitia que eu visse as bandeiras vermelhas sendo agitadas bem na minha frente.


" A gente precisa conversar, okay?" ela adicionou, jogando mais um balde de água fria em minha animação desenfreada.


" Claro, só vou colocar uma música," respondi, tentando manter a calma. "Senta no sofá, fica à vontade."


Enquanto eu mexia no som, Provolone assumiu sua posição na janela da sala, observando a cena com aquele olhar que parecia dizer: "isso vai dar ruim e eu não quero perder um segundo". Escolhi "Certain Things" na esperança de que a música transmitisse a mensagem que eu não conseguia expressar com palavras. Eu queria que ela entendesse, através das letras, tudo aquilo que estava entalado na minha garganta, mas talvez, no fundo, eu soubesse que as músicas não teriam o poder de consertar o que estava prestes a se quebrar.


"- Sobre o que você quer falar?" perguntei, tentando manter a animação, apesar do clima que já começava a pesar.


"- Eu acho que é melhor a gente parar de se ver!" Alexia foi direta, suas palavras soando como um tiro certeiro no meu peito.


"- Do que você está falando?" Minha voz saiu embargada, o desespero transbordando em cada sílaba.


" Eu quero me afastar de você," ela continuou, decidida.


This Is How We Do ItWhere stories live. Discover now