14- Life goes on- Zac

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A situação com Alexia era complicada, para dizer o mínimo. Levando-a desacordada, qualquer um que me visse poderia facilmente confundir a cena com o enredo de um filme de suspense de baixo orçamento. A expressão dela, completamente inconsciente, sugeria que ela havia participado de um campeonato de boxe imaginário e saído derrotada.


Recorri a Isa uma, a ex-amiga de Melissa. Explicar a situação para ela foi como tentar convencer um professor de que meu cachorro comeu minha lição de casa. Pedir para ela vouch por mim caso surgisse alguma confusão era um tiro no escuro, mas necessário. Enquanto isso, Alexia, ao meu lado, dormia profundamente, desafiando qualquer ideia preconcebida de delicadeza com seus roncos abafados. Era menos a princesa adormecida e mais uma lembrança de que a realidade supera a fantasia.


Durante todo o caminho para casa, não pude deixar de observá-la. Havia algo fascinante naquele contraste entre sua aparência pacífica e a situação absurdamente complicada em que nos encontrávamos. Carregá-la até meu apartamento me fez questionar as escolhas de vida que me levaram até aquele momento. Que tipo de calmante foi usado nela? Rivotril parecia brincadeira de criança perto disso.


Coloquei-a na cama, sua inconsciência era um mistério tão profundo quanto a origem do universo. Tentei, sem sucesso, trazê-la de volta à realidade, mas ela estava mais para o outro lado do que para este. Cobri-a e fechei a porta, resistindo ao impulso estranho de ficar ali igual a um stalker bizarro a observando.


"Isso deve ser o que chamam de insanidade", pensei, indo em direção à cozinha, onde um recado dela esperava por mim na geladeira. Peguei o papel, contemplando sua utilidade antes de decidir pelo destino mais lógico: o lixo.


A garota, por sorte, já tinha evaporado do apartamento, mas deixou seu telefone para trás, com um recado rabiscado na geladeira. Peguei o papel, hesitei por um momento e então ameacei jogá-lo no lixo, murmurando com desdém. "Até parece que vou ligar novamente", disse, enquanto acendia um cigarro em um gesto de desafio à situação absurda em que me encontrava.


Meu celular vibrou, anunciando uma interrupção bem-vinda. Atendi, colocando-o no viva-voz para liberar minhas mãos e tirar os tênis. "Fala, Josh!", exclamei, enquanto me livrava da camisa.


"Encontramos as coisas da Alexia. O cara nem estava armado de verdade; era só um cano de pia quebrado", Josh revelou, como se isso fosse minimamente reconfortante.


"E isso era para me deixar aliviado?", questionei, a incredulidade tingindo minha voz.


"Só não achamos o colar. Ele deve ter caído, mas meu pai já está mobilizando uma busca pelo parque", ele continuou, ignorando meu sarcasmo.


"Ótimo, ela vai querer tudo de volta amanhã cedo", murmurei, já antevendo o drama.


"Você não a levou para casa dela?", Josh perguntou, sua voz elevando-se em surpresa.


"Não tinha ninguém lá, Josh. Eu deveria deixá-la desmaiada no chão da entrada?", retruquei, minha paciência se esvaindo.


"Espero que ela não fique chateada amanhã", ele disse, tentando encontrar algum consolo na situação."Deixei ela no meu quarto, se isso te interessa. E antes que pergunte, não, não foi por generosidade. Ela é atraente, mas não é meu tipo. Embora, admito, tem momentos que ela me olha de um jeito...", minha voz se perdeu, interrompida por um Josh impaciente.


"Poupe-me dos detalhes, por favor."


"Como quiser, só traga as coisas dela. E, por curiosidade, o que vocês deram a ela?", perguntei, já esperando por alguma barbaridade.


"O remédio que a tia Pepita usa para relaxar", ele disse, como se isso explicasse tudo.


"Você tem noção de que isso é controlado, né? Não me admira que ela esteja apagada. Você é insano."


"Bom, pelo menos ela está relaxada", tentou justificar.


"Pelo menos ela não está morta, isso sim", concluí, a conversa revelando muito mais sobre nós do que qualquer análise poderia fazer.


Desliguei o telefone antes que Josh pudesse prolongar a conversa, cortando qualquer chance de mais loucuras. A presença de Alexia em meu apartamento era uma fonte inesperada de desconforto. Lá estava eu, sem camisa, imaginando o caos se ela acordasse e me visse assim, possivelmente desencadeando um escândalo monumental. A ideia de tentar acordá-la novamente começou a parecer razoável, quase preferível a deixá-la adormecida à porta de sua casa.


No final do meu terceiro cigarro, refleti sobre a peculiaridade da situação: uma garota do ensino médio em meu quarto e, pela primeira vez, sem que houvesse qualquer envolvimento físico entre nós. O que Angie pensaria se a encontrasse assim, deitada em nossa cama? E ainda por cima, não havia nada no apartamento para oferecer a ela pela manhã.



Movido por uma responsabilidade inédita, desci até o mercado ao lado do prédio. Minha lista de compras era simples: ovos, bacon, salsicha, suco de laranja, panquecas e waffles congelados. Nunca havia feito compras sozinho antes; era uma experiência nova, carregada de uma estranha melancolia. A lembrança dela me assombrava, tornando a tarefa banal de escolher alimentos em um exercício de memória e especulação sobre suas preferências. Antes que percebesse, o carrinho estava abarrotado.


De volta ao apartamento, fui recebido por Provologne, minha gata, claramente faminta e me julgando com seus olhos felinos. Alimentei-a, a única rotina que mantinha religiosamente, antes de retornar ao quarto. Alexia permanecia imóvel, um lembrete silencioso da noite tumultuada.


Provolone me seguiu até a cozinha, lançando-me aquele olhar característico de julgamento que só os gatos possuem. Sua indignação e repulsa eram evidentes, reclamando de fome de uma maneira que só ela conseguia expressar. Após alimentá-la, peguei meu celular, impelido por um impulso nostálgico, e naveguei até minha galeria. As poucas fotos que tinha com Angie surgiram na tela, uma coleção insignificante de momentos congelados no tempo. Nunca fui de me entusiasmar por fotos; em quase três anos juntos, acumulamos menos de dez imagens, e minha expressão era invariavelmente séria em todas. Odiava fotos. Odiava o que considerava lembranças triviais. Mesmo nos momentos de alegria, meu rosto se recusava a moldar um sorriso, o que sempre era motivo de desentendimento entre nós.


Perdido nesses pensamentos, o relógio avançou para além das três da manhã. Com um suspiro, me arrastei de volta ao quarto para checar se Alexia havia despertado. Ela permanecia imóvel, um questionamento silencioso emergindo em minha mente sobre seu bem-estar. Sua respiração, ainda pesada, dissipou minhas preocupações mais sombrias. Desviando meu caminho, segui para o outro quarto, aquele próximo à cozinha. A cama estava um caos, e o perfume da garota que havia passado a noite anterior ainda impregnava o ambiente. Seu nome me escapava, mas, de qualquer forma, pouco importava. Era improvável que nossos caminhos se cruzassem novamente.


Exausto, deixei-me cair sobre a cama desarrumada, o cansaço dominando cada músculo. Meu corpo pesado antecipava um sono rápido, enquanto a mente, finalmente, começava a desacelerar.

This Is How We Do ItWhere stories live. Discover now