Capítulo 23 (part 2)

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Não consigo expressar ao certo a surpresa e o choque que me dominam. Primeiro: como eles sabiam dos meus pais? lembro-me de ter mentido a muitos meses atrás dizendo para Zayn que eu e Alison vivíamos em um abrigo, justamente para mante-los o mais longe possível deles. Pensar que correram o risco por todo esse tempo me deixa com o coração ainda mais apertado e sei que provavelmente minha expressão não esconde meu espanto. Sinto meu rosto perder a cor e os lábios ficarem secos e olho fixamente para o homem a minha frente, engolindo o nó em minha garganta. Não consigo evitar o julgamento contra minha própria ingenuidade. Era óbvio que ele sabia dos meus pais, ele mesmo afirmou para mim na primeira vez em que nos vimos que ele gosta de saber com quem está lidando, deve saber até do minimo detalhe de algum momento da minha vida, e não deveria estar surpresa com isso. Segundo: Como fariam meus pais aceitarem uma criança desconhecida? Lilith pode ser minha filha, mas para eles eu estou morta, então não sabem que terão uma neta. E se soubessem, o mundo deles acabariam por saber que eu estou viva por tanto tempo e que a criança é fruto de um sequestro e estupro. Por mais complicado que seja admitir, sei que Louis não foi o unico a me estuprar, Zayn foi o primeiro, mas sei que minha mente perturbada se recusa a odia-lo na mesma intensidade que Louis, apesar de ter uma lista gigantesca de A á Z com inúmeros motivos. 

Passo a lingua rapidamente sobre os lábios para umedece-los e me recomponho, voltando minha atenção para Harry, que me olhava inexpressivo. 

"E por que meus pais aceitariam uma criança? Eles não tem motivos para isso." Digo, olhando no fundo dos olhos verdes do homem ao meu lado.

"Zayn deixará todo o dinheiro que tem com eles. Para que criem a menina sem dificuldades financeiras, para que tenham condições de sustentar suas necessidades, seu futuro e muito mais. Além disso, ele deixará claro a verdadeira identidade dela..." Harry responde como se fosse óbvio.

"E se não acreditarem?" Pergunto, sentindo meus olhos transbordarem lágrimas novamente. Não poder ficar com a minha filha me destrói, sei que no momento em que ela estiver com eles, nunca mais a verei. Não ter um futuro ao seu lado é dilacerador. No entanto, será ainda pior  não ter a chance de um futuro se ficar ao meu lado. O que me conforta é saber que meus pais terão uma parte minha com eles, assim como minha filha estará cercada pelo sangue do meu sangue, que a criará com amor e dedicação. E não há nada que eu não faça para mante-los seguros.

"Acredite, eles vão." É tudo o que responde. Passo longos minutos em silêncio até finalmente balançar a cabeça concordando, afinal, pela a primeira vez na vida esses homens se importavam com a segurança de alguém.

"Tudo bem. Eu concordo." Respondo, convencida de que era o certo a se fazer, por mais que meu coração pareça pequenininho dentro do peito. Harry passa os braços em volta de meus ombros e me puxa para perto dele, me acolhendo em seu aconchego, querendo me reconfortar. Era óbvio para eles, mesmo que tenham crescido sem amor, que tirar minha filha de perto não seria fácil emocionalmente e muito menos psicologicamente. Mas todos sabiamos que sem ela por perto, ficariamos mais tranquilos para lidar com toda a barbaridade que está por vir. 

"Skye..." Harry chama minha atenção, sua voz parecia ter perdido a coragem, como se ele estivesse vulnerável. Tento me afastar para olhar em seus olhos mas ele me aperta em seus braços, impedindo que fizessemos contato visual, nos mantendo na mesma posição. Alguns segundos se passam em completo silêncio e então ele respira fundo e balança a cabeça negando. "Nada." Ele por fim diz e se desvencilha de meus braços e se levanta com o auxilio das muletas e sai sem dizer mais nada, ele ao menos olha para mim. Franzo as sobrancelhas, e observo-o deixar a biblioteca com uma expressão nada boa no rosto. Considero ir atrás dele, mas naquele momento eu também precisava ficar sozinha. 

Abraço minhas pernas e apoio minha testa nos joelhos, sentindo as lagrimas deixarem meu rosto. Precisava colocar o máximo da minha dor para fora, não poderia deixa-los me verem nesse estado. Se o pai de Zayn me visse tão abatida 'sem motivos' ele suspeitaria de algo. E passo horas assim, até por fim limpar os olhos com as mãos e respirar fundo, recuperando o controle sobre meus sentimentos. Arrumo meus cabelos que grudavam no rosto molhado e volto a ler as paginas do livro ao meu lado, como se nada estivesse acontecendo. 

Baby Girl 2: DESTROYEDWhere stories live. Discover now