Capítulo 1

36.5K 2.4K 2.5K
                                    

Os gritos femininos que ecoavam no andar de cima eram facilmente reconhecidos. Era ela. Escuta-la aos berros me deixa completamente apavorado. Afinal, o que fazia aqui? Era pra estar longe de tudo isso, longe de mim!

Não estava preso em um cômodo escuro e úmido, estava em uma casa, livre de correntes e limpo. Mas apesar de ter consciência das coisas. sentia-me menor, e impotente. Minha mente não estava funcionando da mesma forma, não conseguia sentir raiva , só medo. Eu estava com muito medo. Todos os meus pensamentos agressivos haviam sumido, agora os que dominavam minha mente eram preocupações, só conseguia pensar em fazer da forma certa o que me fora mandado. Com os olhos arregalados pelo o medo, analiso o lugar a minha volta, era perturbador, mas reconheço sem precisar me esforçar, era minha casa! Os gritos no andar de cima se tornam altos o suficiente para que eu escute e, se juntando ao da mulher, ouvia-se o de um bebê. Sentindo a necessidade de ajuda-los, subo a escada ás pressas, tropeçando  por vezes nos degraus. Corro pelos corredores o mais rápido que consigo, meus batimentos cardíacos desregulados e meus lábios extremamente secos. Paro diante a porta de onde vinham os gritos, o medo dentro de mim cresce, e sinto algo arder em meus braços. Desvio minha atenção para um dos locais que ardiam e vejo minha pele completamente livre de tatuagens, mas cobertas por cicatrizes e feridas abertas. Sangue escorria por toda a extensão de um dos braços. Assim que outro grito ecoa da parte de dentro do cômodo, ignoro meus machucados e empurro a porta entreaberta, vendo a Skye atirada no colchão protegendo um bebê, seu corpo estava coberto por sangue e os olhos inchados e roxos. Ela gritava para o homem à sua frente parar mas ele continuava acertando-a com uma barra de ferro enquanto a garota protegia o bebezinho de poucos meses que chorava. Com o corpo trêmulo e a garganta seca, olho para o homem, vendo eu mesmo- completamente irado e descontrolado. Naquele momento me dou conta de que tenho dez anos novamente, e, quando torno a olhar para as pessoas a minha frente, vejo meu pai e minha mãe. Estava revivendo uma lembrança. Assim que eles percebem minha presença, o homem me fita com desprezo, no entanto um pequeno sorriso maligno cresce em seus lábios. Eu me encolho diante a aquele olhar sombrio- sentindo lágrimas grossas de medo brotarem em meus olhos. Minha mãe me encara, e ao ver o homem dar um paço em minha direção, se levanta e parte pra cima dele, que a joga novamente para a cama e a acerta com a barra de ferro em suas pernas marcadas por hematomas escuros. E então, os olhos de meu pai se voltam para mim, a raiva mais intensificada, aquele olhar me causa ainda mais medo, meu pequeno corpo fica gelado e o suor frio desce por minha testa. Ele iria me machucar outra vez. Olho para minha mãe e meu irmãozinho sobre a cama, ela chorava por não poder fazer nada, era eu ou Zack, como sou mais forte que o bebê, ela não se move.

"CORRA, ZAYN!" A mulher que me deu a luz grita. Mas diante ao medo que sentia de meu pai, apenas caio de joelhos em frente ao homem que nunca demonstrou me amar. Ele leva uma das mãos para meu cabelo e os puxa pra cima- fazendo com que eu o encare. Suas palavras de hoje de manhã ecoam em minha cabeça 'Nunca demonstre fraqueza. Nunca fuja. Seja forte, seja como eu.' Eu tento ser como ele, mas ele é mais velho e mais forte, enquanto eu tenho somente dez anos. Com meus olhos fixos aos dele, começo a chorar, seu rosto se contorce de desgosto. Eu havia falhado.  Desvio minha atenção para seu braço que tinha a mão ocupada pela a barra de ferro e estremeço por saber que apanharia com aquilo.

"Você é fraco." Ele carranca entre os dentes, a voz carregada pelo o costumeiro ódio que sentia pela a vida. "Eu não crio pessoas fracas, moleque. Você é uma humilhação para essa família." Ele completa e sem pensar duas vezes, seus braço se afasta do corpo e, no mesmo segundo, sinto o impacto do ferro contra minha cabeça e os gritos da minha mãe.

Acordo em um sobressalto, com a respiração descompensada, os batimentos cardíacos desregulados  e os olhos arregalados. Meus lábios estavam secos e ásperos, meu corpo tremia inteiro e o medo ainda fazia parte de mim. No entanto, aos poucos que vou voltando a realidade, sinto meus sentidos se recomporem, e logo, os sentimentos do sonho se vão. O conhecido e profundo desgosto pela a vida volta. Tento levar a mão até a cicatriz em minha cabeça- agora coberta pelo o cabelo curto- mas as correntes me impedem. Encontrava-me de joelhos, os tornozelos presos ao chão para que eu não saia da posição atual. Os ferimentos causados pelas algemas estavam cada vez mais profundos, meu corpo sujo tinha um odor insuportável. Meu corpo, que já era magro antes, agora se encontrava ainda pior, minha barba havia crescido bem e minha força havia sumido por completo. Não passava de um saco de ossos inútil que implora mentalmente pela a morte. Apesar de estar passando por muita coisa, não era nem a metade do que eu merecia por tudo o que fiz, e nenhuma forma de tortura é pior do que reviver meu passado toda vez em que fecho os olhos ou caio no sono. Sempre soube que minhas atitudes eram erradas, no entanto cresci nesse estilo de vida e nada do que fiz me é fora do normal. Mas desde que passei a me sentir atraído por Skye venho lutando contra quem eu sou e quem eu fui criado para ser, É mais difícil do que pensei que seria, nunca consegui ser quem deveria, sempre fui o que meu pai fez de mim. Confesso que sem ela, não me interesso por nada mais além de ser o que todos conhecem, é a forma mais fácil de lidar com a vida e com a minha mente perturbada. Sou uma pessoa ruim, não há nada que justifique meus atos, não posso culpar meu pai por me criar daquela forma, não foi ele que me definiu, meus atos me fizeram o que sou hoje. Um monstro.

Baby Girl 2: DESTROYEDWhere stories live. Discover now