Capítulo 14

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"Hoje não importa quantos anos nós temos, sempre podemos escolher. Desde o momento que comemos a primeira papinha, estamos fazendo uma escolha. Está em cada um de nós, a responsabilidade de escolher a sua própria vida, seu próprio caminho. A questão é: ao crescer teremos coragem suficiente para fazer isso?"

Sábado. Mais um dia de jogo.

Levantei e fui até o banheiro, esbarrando em quase tudo, já que era quase impossível manter os olhos abertos. Resultado de ficar vendo série até tarde. Qual foi? Private Practice é um seriado muito bom!

Me olhei no espelho por alguns segundos e uma sensação estranha me atingiu, como se minha vida estivesse sendo sugada de mim mesma. Abaixei a cabeça, olhando minha barriga e cintura, com todos os cortes cicatrizados. Eu sentia falta daquilo, do sangue, da dor, da ardência. Tirei a roupa e entrei no box, ligando o chuveiro e logo sentindo a água morna cair pela minha cabeça, nuca e ombros, e em seguida me perdendo em meus próprios pensamentos. Eu tinha tantas dúvidas, e a frustração por não conseguir a resposta delas me atormentava. Desliguei o chuveiro, me enrolei em minha toalha e troquei de roupa rapidamente, arrumando uma pequena bolsa com o uniforme, tênis e acessórios.

Saí do quarto fazendo o mínimo de barulho possível, descendo as escadas e encontrando minha mãe na cozinha. Machucada. Arregalei os olhos e me aproximei.

- Quando isso aconteceu?

- Ontem. Você ainda não havia chegado, afinal, você anda demorando muito para chegar, o que houve com aquele rapaz que te trazia de carro até a porta? - desconversou com um meio sorriso, me fazendo gelar.

- Como que você sabe disso?

- Eu sou sua mãe, e mães sabem de tudo! Mas me diga, o que aconteceu? - mantia o sorriso fraco nos lábios.

- Ele é um idiota, só isso, e pelo jeito, todos são. - olhei para a escada, e ela entendeu que eu quis me referir ao meu pai.

- Nem todos, meu amor. Quando eu tinha sua idade, namorei com um rapaz muito bacana! Eu pensava que iríamos ficar juntos pra sempre, mas a vida é maluca. - e finalmente sorriu, fazendo uma expressão de dor em seguida, já que sua boca estava cortada.

- E por que não ficaram?

- Seu pai me conquistou. Na época, ele era minha maior certeza.

- Você nunca me contou sobre isso, mãe! Eu não consigo imaginá-lo sendo uma pessoa boa. Eu nunca o vi sendo bom. - a decepção estava bem clara em minha voz.

- Ele já foi bom, mas de uma hora pra outra, parece que roubaram sua alma. Mas como dizem: nada é para sempre! - tentou sorrir novamente e pegou em minhas mãos.

- Um dia, eu juro que vou te tirar daqui, ta bem? Agora eu tenho que ir, mãe! - a abracei rapidamente, peguei uma maçã verde da fruteira e saí porta afora.

Toquei a campainha da casa de Lisa e sua mãe me atendeu com um sorriso no rosto.

- Oi, querida! Melissa está em seu quarto, ainda se arrumando! Essa garota demora tanto que eu vou te contar... Mas suba, aproveite e a apresse! - rimos e caminhei até o quarto da atrasadinha.

- Sua mãe me deu ordens para vir aqui e te puxar pelos cabelos, se prepare! - me aproximei com as mãos abertas, ameaçando pegar em seu cabelo.

- Babacona! Eu estava fuçando em meu guarda-roupa e olhe o que eu achei! - pegou um bolinho de fotos dela e de outra criança.

- Esse é o...?

- Sim, o Theo! - caímos na gargalhada, pois ele tinha um corte de cabelo estilo playmobil e usava roupas estranhamente estranhas.

BlinkWhere stories live. Discover now