Capítulo 30

238 32 3
                                    

"A mudança vem como um pequeno vento que agita as cortinas no amanhecer, e vem como o discreto perfume das flores selvagens escondidas na grama."

3 MESES DEPOIS...
Julie faleceu às 3:31 da manhã de uma quarta feira.

Na vida, acompanhamos muitos ensinamentos a como combater a morte, mas ninguém nunca ensinou nada que nos mostre a continuar vivendo em meio à dor e a falta de alguém. O luto vem em seu próprio tempo para todos, à sua própria maneira. O melhor que qualquer um pode fazer, é tentar ser honesto. A pior parte do luto é que não se pode controlá-lo. O melhor que podemos fazer é tentar nos permitir senti-lo, mesmo que fazer tal coisa tire seu fôlego.

Há cinco estágios de luto. Negação. Raiva. Barganha. Depressão. Aceitação.
A medicina assume quando o corpo começa a falhar. Os medicamentos e tratamentos são feitos, mas quando não se tem mais saída, o único sentimento que fica é o de dever não cumprido. A medicina não conseguiu ser boa o bastante para salvar aquela vida. A morte não é fácil. Não gostamos de perder, mesmo a vida sendo baseada nisso.

Julie Tuck era filha, irmã, esposa e mãe. Eu não passei muito tempo com ela, mas nos tornamos boas amigas. Eu tive o privilégio de passar os últimos três meses com sua presença em minha vida. Acho que certas pessoas sentiriam inveja de Julie pela tamanha falta que ela já fazia. Ela foi amada até o último instante e ainda mais que isso. Julie Tuck era filha, irmã, esposa, mãe, e também um anjo, mesmo sem asas. Agora ela finalmente podia voar.

A cerimônia de cremação terminou, e cada parente, amigo ou conhecido saía aos poucos do local, antes dando fortes abraços e frases de apoio para Jackson e Cooper. A morte de Julie tinha nos pegado de jeito. Depois de uma grande festa de três meses atrás, todas as nossas famílias mantinham contato de alguma forma. Todos haviam se tornado amigos, e todos também estavam em dor.

Cooper nos convidou a ir para sua casa. Ele tentava esconder, mas estava nítido em seu olhar o seu medo de ficar só. Ele precisava de apoio e o teria. O trajeto até sua casa foi silêncio total. Ninguém teve a coragem de abrir a boca para falar nada. Desejei mentalmente com todas as minhas forças que aquilo fosse um pesadelo. Infelizmente não era. Tantas alegrias foram vividas naquela casa pelos últimos três meses, e agora parecia ser a coisa mais difícil entrar ali. Ergui minha cabeça, passando pelo enorme jardim e entrando na casa que já não tinha o mesmo brilho de antes.
Tentamos nos acomodar, mas o desconforto era imenso. Ela já fazia uma tremenda falta.

- Eu não quero sentir isso, eu não sei se consigo! - Jackson quebrou o silêncio, andando de um lado para o outro impaciente com a voz tremula, assim como suas mãos. Cooper tentou ajudar o filho, que deu um grito tão alto que poderia ter derrubado as paredes. Ele atingiu seu ponto máximo. O ponto em que nada faz mais sentido. O ponto em que seu próprio cérebro se torna nebuloso, e se sente como se estivesse preso em um túnel que só traz dor.

Negação. A perda foi tão grande que ele não conseguia lidar. Não tinha abraço ou frase que diminuiria sua dor.
Eu não consegui olhar aquela cena por mais um segundo. Meu coração estava sendo esmagado. Corri para o jardim dos fundos, sentindo minha respiração se descompassar cada vez mais. Eu precisava ser forte por Jackson, mas não conseguia. Vê-lo sofrendo daquela maneira era de longe, a pior coisa do mundo. Limpei as lágrimas que caíam de meus olhos sem descanso. A morte de Julie tinha sido como um corte profundo em minha alma.

- Ei, o que houve? - Ashton apareceu, respirando ofegante, recuperando seu fôlego. Encarou-me de longe com os olhos também marejados, provavelmente se sentindo tão mal quanto eu. Foi como se o meu corte na alma tivesse acabado de sofrer mais uma danificação.

A morte simplesmente vem e te leva sem avisar. A morte não pensa nos seus entes queridos, ela simplesmente te leva para um lugar em que não podemos mais achar. A morte é egoísta por tirar Julie de um lugar que ela era tão amada. A morte a tirou de nós, deixou Jackson sem mãe. Passei a mão em minha barriga que já estava grande pelos 5 meses de gestação, fazendo um carinho desesperado, sentindo a necessidade de mostrar ao meu bebê que ele não estava só, e jamais estaria. Ashton ainda me encarava triste e confuso.

BlinkWhere stories live. Discover now