Capítulo 35 - FINAL

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"Existe uma maré nos casos dos homens a qual, levando à inundação, nos encabeça à fortuna. Mas omitidos, a viagem das vidas deles está restrita em sombras e misérias. Em um mar tão cheio estamos agora a flutuar. E nós devemos pegar a correnteza quando nos for útil, ou perder as aventuras a nossa frente."

1 MÊS DEPOIS...

Antes de ser mãe eu nunca tinha chorado olhando pequeninos olhos que choravam também. Eu nunca fiquei gloriosamente feliz com uma simples risadinha. Eu nunca fiquei sentada horas e horas olhando um bebê dormindo. Antes de ser mãe eu nunca segurei uma criança só por não querer afastar meu corpo do dela. Eu nunca imaginei que uma coisa tão pequenininha pudesse mudar tanto minha vida. Eu não conhecia a sensação de ter meu coração fora do meu próprio corpo. Eu não conhecia a felicidade de alimentar uma bebê tão pequena, mas tão faminta.

Me falaram das dores do parto, do corpo diferente, depois das noites mal dormidas e toda a parte chata, mas nunca me contaram que cada olhar e toque que eu ganho vale mais que qualquer outra coisa no mundo. Não me contaram que esse cheirinho de bebê empreguina na alma e que dói ficar sem ele nem que seja por alguns segundos.

É... 1 mês. Tudo mudou.

Fechei o diário do bebê após escrever as novidades que tinham acontecido no primeiro mês de vida da minha filha. Observei aquele pedacinho de gente dormindo tranquilamente no berço, e o meu sorriso se formou naturalmente. Me levantei com cuidado, colocando o diário do bebê na prateleira que tinha ali, junto com algumas fotos. Julie estava em uma delas, sorrindo lindamente. Soltei um suspiro pesado.

Ela fazia falta.

Virei meu corpo para sair do quarto, mas... essa sensação me atingiu. Essa coisa maluca. Franzi a testa com o vento repentino levemente forte que entrava pela janela. Eu tinha que sair dali, afinal, meu estômago estava praticamente nas costas e vento não me alimentaria, mas minhas pernas não me obedeceram. Algo me prendia ali.

O vento continuou...

Hope se mexeu em seu berço, com um chorinho extremamente rápido e voltou a dormir.

Ok. Vento, Hope, e... Julie. Olhei para aquela foto novamente, junto ao diário do bebê que estava ali do lado, onde eu tinha acabado de escrever coisas como o peso de Hope, o tamanho, e a hora do seu nascimento.

03:31 da manhã. Julie morreu às 03:31 da manhã!

Arregalei meus olhos, colocando a mão na boca no mesmo instante. Aquela sensação estranha se exalou por todo o meu corpo, praticamente me causando um choque. Não, não foi ruim.

Foi... ótimo.

O vento foi cessando aos poucos, mas as lágrimas em meus olhos estavam prontas para sair dali. Eu havia pedido para Julie mandar um sinal, e ela mandou.

O mesmo horário da vida e da morte, as coisas mais bizarras e incríveis que podemos conhecer.

- Ei, o pessoal cheg... Está tudo bem? - Ashton arregalou minimamente os olhos ao notar meu estado incrédulo e chorão. Abri um sorriso em meio às lágrimas de alegria que o nosso anjo, mais conhecido como Julie, me proporcionou.

- Está tudo ótimo! - passei a manga da minha blusa em meu rosto, me recuperando de um dos melhores momentos da minha vida inteira.

- O pessoal chegou, e trouxeram um monte de coisa gostosa pra comer! - meu namorado passou a mão pela barriga, arqueado as sobrancelhas de modo convidativo. Olhei mais uma vez para aquela foto que mostrava uma das mulheres mais incríveis que tive o prazer de conhecer. Me apressei para sair do quarto, com a barriga roncando de fome.

BlinkWhere stories live. Discover now