XII - Ilusões Refletidas

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A noite negra sobre nós só intensificou o pavor que percorreu todo meu corpo quando o som do primeiro tiro ecoou pelo vazio que a carruagem percorria

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A noite negra sobre nós só intensificou o pavor que percorreu todo meu corpo quando o som do primeiro tiro ecoou pelo vazio que a carruagem percorria. Engoli em seco, ignorando o que os solavancos faziam com a minha dor. Eu sentia o sangue escorrendo na minha mão, deixando meus dedos grudentos.

Ainda sim, eu fiquei grata pela dor por me manter acordada. Parecia que na escuridão, minha mente tempestuava conta mim. Segurei-me com o máximo de força com a mão restante na lateral do nosso veículo, tentando não ser arremessada para fora.

Não estávamos em uma floresta, percebi algum tempo depois, quando as arvores começaram a sumir. Talvez, fosse alguma cidade ou vila, antes queimada por negros, e agora tomada e esquecida pelo resto do mundo. Os tiros se aproximaram, junto com trote de cavalos. Engoli em seco, me encolhendo tanto quando podia.

Eu sequer sabia se ainda estava na França.

-Acho que os deixamos para trás – falou o homem de pele negra conduzindo o veículo – Esperava que não chegassem a acordar. Senhorita? Senhorita está tudo bem?

-Estou bem – menti, segurando com força meu ferimento.

Algo se rasgou, e então ele me entregou algo – Deve ajudar por algum tempo. Não faça tanta pressão, ou só irá piorar o sangramento. Roxana disse que já estava melhor...

-Quem são vocês? – perguntei zonza, enquanto começávamos a nos aproximar de luzes brilhantes. Uma cidade, talvez – O que irá fazer comigo?

-Não espero que acredite em mim, mas estou salvando você – ele falou, diminuindo a velocidade para que eu pudesse enrolar o pano na minha cintura – Soubemos que os homens do Dragão pretendiam sequestrar uma garota do palácio. Só queremos evitar o caos.

-Então me leve de volta – arfei, tentando me sentar.

Ele negou com a cabeça – Muito longe. Precisa descansar e se curar. – ele mexeu em algo na carroça – Tome.

Um cantil. Água. Engoli aquilo metade do liquido como se fosse à última vez que beberia, até onde eu sabia, talvez fosse – Onde estamos?

-Devemos estar saindo do perímetro de Oradour-Sur-Glane – ele pareceu pensar um pouco – Sim, acredito que já tenhamos saído.

-A cidade abandonada? – me ouvi murmurar.

O silêncio que se seguiu foi tão longo que imaginei se não estaria dormindo novamente, porém enfim ele respondeu – Não sei do que está falando.

Não, não sabia. Aquilo era um privilégio dos que venceram as guerras, dos que tinham o direito de estudar as cinco em uma escola e depois voltar para casas quentes e seguras. Não de negros. E, apesar de conhecer o que a cidade representava, eu tão pouco sabia onde ele ficava no território da França.

-Desculpe... – pisquei algumas vezes, tentando não perder a lucidez – Qual seu nome?

-Kambani – ele respondeu, e eu pensei por um minuto que podia fechar os olhos.

O Que o Espelho Diz - A Rainha da Beleza Livro II [NÃO REVISADO]Where stories live. Discover now