O Que o Espelho Diz - A Rainha da Beleza Livro II [NÃO REVISADO]

X - Teia de Veludo Vermelho

Isabel não foi ao velório. Um dos uniformes de Dylan, enviado pelos homens de Berlim, seria queimado e guardado na urna enfeitada em seu lugar. Havia mais pessoas naquela cerimônia do que na coroação de Fox.

Tina me entregará um vestido cinza pela manhã – tons claros e escuros entrelaçados em tecidos ondulados e uma saia rodada. Nunca pensei que eu seria capaz de rasgar com minhas próprias mãos uma criação de Tina, mas foi o que eu fiz – com os olhos cheios de lágrimas, puxei faixa por faixa que formava a saia. Eu era incapaz de entender como ela poderia estar preocupara com amenizar algo que não poderia ser amenizado, mas era exatamente o que ela estava fazendo.

Ela e Camille vestiam cinza, assim como Annie e Fox. Ela franziu a testa a me ver entrar no salão. Eu escolherá calças e uma camisa, ambos pretos, sob o sobretudo e os óculos que eu usara para ir com Dylan ao hospital.

Fox havia quebrado algumas regras por mim, pensei, mas Dylan estivera lá para quebrar as regras junto comigo. Dylan não era minha família, como deles, mas era meu amigo. E meus amigos eram toda a família que eu havia conhecido. Um flash explodiu no meu rosto, e achei que fosse desmoronar no chão por um momento.

-Está tudo bem – uma mão enluvada pousou no meu ombro, e me virei para ver Lenna logo atrás de mim. Ela também usava preto, para a minha surpresa, um vestido reto de mangas longas, que ia até seus joelhos. –Tudo ficará bem, criança.

Eu queria que as câmeras não tivessem pegado aquilo. Cada flash fazia com que aquilo parecesse mais ensaiado.  Mas era bom estar abraçando alguém que parecia me entender.

-E-eu pedi que entregassem as roupas em seus quartos – Tina falou, se aproximando e abraçando a tia. Afastei-me, não rápido o bastante para deixar de ouvi-la – Bethany...

-Isto vai acabar logo – falou Fox, colocando a mão no meu cotovelo quando me aproximei dos outros.

-Não deveria – falei, olhando para nossos pés, tão próximos uns do outros naquele pequeno circulo – Dylan merecia mais do que "isto vai acabar logo".

-Ele terá mais no discurso – falou Camille, forçando seu rosto a sorrir mesmo parecendo querer se retorcer em lágrimas – Valenttina garantiu isto.

-Não faça isso, ela está se esforçando – pediu Annie, enrolando o braço com a prima – Não é momento para brigarmos.

-Não é momento para aparências, Antoinette – as lágrimas começaram a cair do rosto dela e ela o enfiou no ombro de Annie, soluçando.

Engoli em seco – Dylan odiava as aparências.

Ela se afastou um pouco, sorrindo por trás dos olhos inchados e do rosto vermelho – Ele odiava.

-Fox? – Annie ergueu uma sobrancelha, observando o irmão. Virei o rosto para observa-lo também. As marcas de Isabel ainda estavam ali, o roxo na lateral do queixo e o mau jeito no ombro. Fox tinha o rosto contorcido, balançando a cabeça de um lado para o outro, como se seus pensamentos o estivessem engolindo – Irmão?