Capítulo 4

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     Tenho uma dificuldade imensa de me concentrar no prato de guisado de cordeiro diante de mim. Minhas mãos tremem e meu coração está tão acelerado que todos na sala com certeza podem ouvir.

     Após aquela declaração calorosa de fidelidade, Kieran me conduziu sem palavras para junto de nossos pais e de madame Daisy. Até agora sinto borboletas dançarem em meu estômago e minhas risadas vêm com facilidade exagerada. Sinceramente não sei o que pensar desse noivado, e essa insegurança me deixa preocupada. Kieran parece bom demais para ser verdade e temo que a qualquer momento papai ria alto e grite Pegamos você! Seu noivo não é esse!

     – É maravilhoso finalmente conhecê-la, Anna – diz a Sra. Bjorgman. Seus gestos são todos nobres e delicados e ela brilha tanto em suas roupas e acessórios que parece ser feita de ouro. – O senhor seu pai nos falou tanto sobre você.

     Sorrio com sinceridade. É bom saber que ela gosta de mim.

     – Igualmente, senhora – assinto.

     Ela agita o dedo indicador, rindo.

     – Nada disso. Quero que me chame de Amélia daqui em diante. Logo seremos família, não é mesmo?

     Meu sorriso congela. Família.

     – Como quiser, Amélia.

     – Todas essas formalidades me cansam às vezes, sabia? – Ela toma um gole de vinho. – E Kieran também não é muito formal. Nós o criamos à maneira moderna.

     Eu não sei o que é essa maneira moderna, mas arqueio as sobrancelhas como se compreendesse.

     – Já esteve em Trollstone, minha jovem? – pergunta o Sr. Bjorgman, enquanto corta seu pedaço de carne. Creio que Trollstone é o lar da família de Kieran.

     – Não tive o prazer, senhor.

     Eles me perguntam tanta coisa que mal toquei em meu jantar. Qual meu passatempo favorito? Gosto da neve? Viajar está em meus planos para o futuro? Estou animada para o casamento? Quando nota meu desconforto, papai toma a atenção do Sr. Bjorgman e sua esposa para discutir assuntos comercias. Então fico livre para respirar um pouco e trocar olhares tímidos com meu noivo à minha esquerda.

     Kieran parece quase tão constrangido quanto eu e isso me conforta um pouco. Aos menos somos um tanto parecidos.

     – Gostaria de mais vinho? – ele me oferece, aproveitando-se da distração dos pais.

     Levo minha taça até ele.

     – Sim, por favor.

     – É a primeira vez que bebe? – ele despeja o conteúdo do jarro.

     Olho para ele.

     – Como sabe?

     – Suas bochechas – Kieran ri e seu riso é rouco e agradável – estão tão coradas.

     – Ah, mas não é por causa do vinho. Estou tão nervosa que poderia explodir a qualquer momento e...

     Cubro os lábios antes que mais alguma bobeira saia deles, provocando mais risadas de Kieran.

     – Eu não devia falar tanto – digo, envergonhada. – Madame Daisy diz que uma boa moça consegue se expressar apenas com gestos e olhares adequados.

     – Mas eu gosto de ouvir você falar – ele dá de ombros. – Quando estiver comigo não precisa seguir essas regras.

     Sorrio.

Amor e Liberdade #1Where stories live. Discover now