Capítulo 22

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     A noite chega muito rápido e muito fria.

     Os sacolejar da carroça de Ghia e Kawel me deixa enjoada, mas a dor em meu corpo me distrai disso e me impede de me debruçar e vomitar na estrada de neve. Quando corri até o local onde aquela atrocidade aconteceu a Kieran e seus homens mais cedo, meu tornozelo piorou e só agora estou sentindo a dor de verdade. Minha cabeça também não está muito boa. Estou, em poucas palavras, completamente arrasada.

     Durante nossa viagem de mais horas do que pude contar, ouço a voz de Kieran inúmeras vezes. Ela me conforta e diz que ficarei bem. Devo estar tão triste que estou a ponto de ficar maluca.

     - Ajeite isso - Ghia resmunga e ajeita o xale de lã que cobre minha cabeça e ombros. - Vai congelar até a morte se ficar exposta nessa neve maldita.

     Dou-lhe um sorriso fraco.

     - Não gosta da neve?

     O rosto enrugado de Ghia fica ainda mais contorcido, como se ela tivesse chupado limão.

     - De jeito nenhum. Não temos essa coisa em casa.

     Olho para ela, curiosa.

     - Mesmo? De onde vocês vieram?

     - Viemos de Avival, um reino ao leste daqui, muito pequeno para que a senhorita saiba dele - Kawel responde por ela, enquanto conduz a carroça calmamente. - Lá não há neve, mas há praias, belas cachoeiras e muito sol.

     - E pobreza - rosna Ghia.

     Assinto, imaginando como deve ser. Aqui no norte neva a maior parte do ano e eu gosto muito do frio, mas praias e sol não me parecem nada ruins.

     - O lugar para onde vamos - começo a perguntar - é quente?

     Ghia olha para Kawel por cima do ombro, como se só ele pudesse responder.

     - Oh, sim - ele assente. 

     - Como é lá?

     - Eu visitei Coronte há dois anos, quando as negociações para a união entre os dois reinos começaram. O falecido rei, pai da princesa Sonya, foi companheiro de guerra do rei Kilian quando Coronte foi atacado por bárbaros e uma amizade entre as coroas surgiu. - Kawel faz uma pausa para desviar de pedras no meio da estrada. - Lá parece ser sempre outono. É bastante agradável, se a senhorita gostar de calor.

     Absorvo a informação e sinto o nome dito por Kawel martelar em minha cabeça.

     Kilian.

     Rei Kilian.

     Parece um nome imponente para alguém imponente. Isso me preocupa. Se esse rei for um homem ruim, como suportarei ser a esposa dele? Como ficarei ao lado de uma pessoa que não admiro? Como será a minha vida?

     Cerro meus punhos. Serei corajosa. Eu posso enfrentar tudo isso. Se me acovardar agora não terei energias para ser forte depois e ninguém será forte por mim. Estou sozinha.

     - Como é o rei Kilian? - pergunto a Kawel abruptamente, sentindo um nó na garganta. Não terei paz enquanto não souber ao menos uma coisa sobre ele.

     Ghia e Kawel trocam um rápido olhar.

     - Ele é um rei forte - Kawel responde, de costas para mim.

     E é tudo.

     Permaneço em silêncio, esperando que ele acrescente mais alguma informação ou comentário, mas não. Ghia também não diz nada, apesar de eu ter certeza que ela sabe de algo. Se eles soubessem o quanto isso me deixa ainda mais ansiosa, não fariam essas caras de paisagem e me diriam de uma vez que tipo de homem ele é. Ou talvez não queiram mesmo que eu saiba. Talvez me assuste.

Amor e Liberdade #1Where stories live. Discover now