Capítulo 29

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     Admiro o nascer do sol pela fresta da enorme janela dos aposentos do rei, envolta em um roupão que encontrei pendurado no braço de uma poltrona - e que fica gigante em mim. Parece um início de dia comum como qualquer outro, mas eu me sinto completamente diferente. Sou uma mulher casada agora. Sou uma rainha de dois reinos. Sou esposa de um guerreiro. É assustador e empolgante ao mesmo tempo, tanto que faz minhas mãos suarem e minhas pernas ficarem bambas.

     Olho para trás, por cima do ombro, para um rei totalmente adormecido e enrolado nos lençóis. Sorrio. A expressão no rosto dele parece tão tranquila e pacífica que quero ficar olhando até gravá-la em minha memória. Apesar de ser grande e até um pouco intimidador, rei Kilian é mais gentil e doce do que eu esperava.

     Afastando as cortinas, abro a janela um pouco mais, de modo que a luz do sol entre e seja suficiente para que eu enxergue o quarto. Começo a caminhar pelo cômodo, que parece cada vez maior a cada passo que dou. Olho para as cabeças de animais empalados nas paredes e sinto um calafrio - como vou conseguir dormir com essas coisas me olhando? Afasto-me da cama e noto que o aposento é quase como o meu, divido em vestíbulo, quarto principal, quarto de vestir e banheiro. Há um tipo de armário de madeira num canto, perto do imenso guarda-roupa; através das portas duplas de vidro, posso ver que dentro dele estão guardados mai machados, adagas, espadas e outras armas que não sei nomear. Encontro uma escrivaninha abarrotada de papéis e envelopes e fico curiosa para lê-los. São cartas de aldeias, ducados e reinos vizinhos, felicitando o rei de Coronte pelo casamento ou oferecendo homens para compor o exército dele na guerra. Sei que não é nada educado ler a correspondência de outra pessoa, mas penso que ele é meu marido agora e provavelmente não vai se importar se eu bisbilhotar um pouco.

     Meu marido.

     Apoio-me na escrivaninha, sentindo as pernas bambas. Céus, o que foi que eu fiz? Eu realmente me casei com um rei? Eu sou mesmo uma rainha agora? Eu, a garota que não queria liderar ou me responsabilizar por nada?

     - Sonya... - ouço-o murmurar, do quarto de dormir.

     Afasto-me da escrivaninha bagunçada e caminho até a cama, sentindo a barra do roupão se arrastar atrás de mim como uma cauda. Rei Kilian ainda está deitado, apoiado em seus cotovelos.

     - Bom dia, Majestade - eu digo, sem conseguir evitar um sorriso.

     Ele esfrega os olhos e olha para mim. Fica levemente sobressaltado ao me ver usando seu roupão imenso e parece descontente.

     - Está acordada há muito tempo? - ele pergunta.

     Sacudo a cabeça negativamente. Rei Kilian afasta os lençóis e se veste com outro roupão, de costas para mim. Deve estar tão constrangido quanto eu.

     - Devemos - ele diz, impassível - ir tomar o café da manhã?

     Mordo o lábio e prendo uma mecha de cabelo atrás da orelha.

     - Bem... a menos que eu coloque meu vestido de noiva outra vez, não tenho o que vestir.

     Rei Kilian arqueia as sobrancelhas.

     - Oh. Sim, é mesmo.

     Alguém bate à porta de repente e ele parece quase aliviado por interromper o contato visual comigo e ir abri-la. Ouço uma criada dizer que recebeu ordens da rainha Irene para nos trazer o café da manhã e logo em seguida dois criados entram com bandejas cheias de comida. Eles olham para mim, esperando que eu diga onde devem colocá-las.

     - Naquela mesa - indica o rei, antes que eu possa abrir a boca. - Ah, tragam os pertences da rainha para estes aposentos o mais rápido possível.

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