Capítulo 40

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     O esconderijo fica no subsolo, depois de inúmeros lances de escada e túneis confusos e abafados. Um dos guardas diz que o Bosque Dourado está sobre nossas cabeças, o que quer dizer que saímos do território oficial do palácio.

     Esther está quieta em meus braços e eu tento mantê-la coberta e aquecida contra meu colo para que não acorde. Ela ainda é tão minúscula e frágil e já está correndo perigo. Será que meu azar vai afetar sua vida que mal começou?

     - Por aqui, Majestade - um dos dez guardas me mostra o caminho pelo túnel.

     Logo nos deparamos com portas grandes e grossas feitas de madeira e aço. O chefe dos guardas pede que todos esperem e dá uma sequência de batidas na porta, como um toque secreto. Ouço o som de passos do outro lado e das travas sendo abertas. Uma mulher de rosto coberto de fuligem surge, cautelosa.

     - Dama Gina - ofega o chefe dos guardas. Ele parece conhecê-la bem a julgar pela maneira como a encara, aliviado.

     - Evano... - os lábios dela se esticam num sorriso contido.

     Outro guarda pigarreia, chamando a atenção dos dois.

     - Por ordem do rei, trouxemos Sua Majestade e Sua Alteza para cá - Evano diz à mulher. - Vamos montar guarda no túnel e impedir qualquer avanço inimigo.

     - Compreendo - ela assente e apoia a mão no ombro dele. - Tenha cuidado.

     Evano assente e se vira para olhar para mim. Parece corado e seus olhos brilham um pouco à meia-luz.

     - Majestade, entre. Estará em segurança com as mulheres e as crianças lá dentro.

     Assinto e passo pela fileira de guardas que abre caminho para mim. Olho para Gina mais de perto e vejo o quanto é bonita. Ela me faz imaginar como minha amiga Vega estará com alguns anos a mais.

     - Majestade - Gina se curva, sem jeito.

     Forço um sorriso.

     - Olá. Estão todos bem aí dentro?

     - Sim, sim... - ela abre mais a porta. - Entre, por favor.

     Olho para os guardas por cima do ombro. Kilian me disse uma vez que minhas palavras encorajadoras o iluminaram em momentos difíceis na batalha contra Omem. Se eu disser algo que anime esses homens eles vão ficar bem? Vão lutar até o fim para sobreviver?

     - Conto com vocês, senhores - digo aos guardas. - Vamos todos passar por isso e voltar para nossas famílias.

     Todos eles me reverenciam.

     - Sim, Majestade!

     Passo pela porta e entro no esconderijo com Esther nos braços e Gina atrás de mim. O lugar é um grande salão e parece um depósito de mantimentos, com prateleiras e sacos pardos de comida empilhados por toda parte. Está cheio de mulheres e crianças - algumas, como Gina, têm o rosto e as roupas sujas de fuligem. Apesar dos olhares de medo e desespero, ninguém aqui parece ferido. As portas atrás de mim se fecham e eu atraio todos os olhares do lugar quando me aproximo do grupo de mulheres.

     - Rainha Sonya... - ouço vozes baixas sussurrarem.

     - Majestade...

     Há apenas algumas tochas iluminando o depósito, então só vejo silhuetas e alguns poucos rostos nitidamente. É o suficiente para saber que mulheres nobres estão misturadas com plebeias. Duas nobres se aproximam.

     - Vossa Majestade está bem? - indaga uma delas, com os olhos arregalados.

     Assinto.

Amor e Liberdade #1Where stories live. Discover now