Capítulo 21

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     Não chego a ficar completamente inconsciente, mas estou desnorteada o suficiente para não compreender o que está acontecendo. Sinto meu corpo balançar de um lado para o outro, como se estivesse de volta à carruagem desgovernada - mas o balanço é muito mais suave e lento. Abro os olhos e vejo o rosto de uma mulher de idade avançada me encarando com muita preocupação, assim como o homem de poucos momentos atrás. Não sei muito bem o que aconteceu depois que ele me encontrou caída na neve e me chamou por um nome que não é meu.

     - Alteza, a senhorita está bem? - a mulher me pergunta, tocando minha testa com as pontas dos dedos.

     Olho para além dela e vejo o céu branco. Por causa das muitas nuvens, não sei dizer se já é meio dia ou se é tarde. Estamos em uma... carroça?

     Toco meu próprio rosto e sinto a pele de meu antebraço arder. Provavelmente me feri quando a carruagem capotou.

     - O que aconteceu? - pergunto, voltando a olhar para a mulher.

     Uma expressão furiosa assume suas feições enrugadas.

     - Aqueles marginais ousaram nos atacar na estrada e quase levaram a senhorita! - ela diz, sacudindo a cabeça grisalha. - Eu disse a Kawel que a ideia do Primeiro Ministro era péssima!

     - O quê? Eu... Perdão, acho que há algum mal entendido acontecendo aqui...

     Ela pisca os olhos e me encara.

     - Como?

     - Eu estava com meu noivo mais cedo... acho que fomos atacados e a carruagem onde eu estava ficou desgovernada e...

     - A senhorita deve ter batido a cabeça com muita força! - a mulher arregala os olhos, pousando uma das mãos sobre o peito. - Ainda não nos encontramos com Vossa Majestade, seu noivo.

     - Vossa...? - franzo a testa. Sacudo a cabeça, ficando cada segundo mais confusa, e me apoio em meus cotovelos, numa tentativa de me sentar. - Escute, senhora... eu... meu nome é Anna e eu venho do vilarejo de Liriel...

     - Mas isso não é possível... - ela sussurra, olhando para mim como se eu fosse um fantasma. Então vira-se para o cocheiro e grita: - Kawel! É pior do que pensamos! Ela perdeu a memória!

     O homem, que conduz a carroça,  olha para mim por cima do ombro.

     - O que quer dizer com isso?

     - Eu não perdi a memória! - protesto, conseguindo me sentar. Vários partes do meu corpo doem e eu até acho que há algo de muito errado com meu tornozelo.

     Os dois olham bem fixamente para mim - e o homem, Kawel, quase perde o controle do cavalo que arrasta a carroça. A mulher estica a mão e segura a manga da túnica dele, olhando para mim com muito mais espanto.

     - Não... não pode ser... - sibila. - Pare essa carroça imediatamente, Kawel!

     Ele protesta, mas faz o que ela lhe pede e se vira para olhar em nossa direção. A mulher lhe dá um tapa muito bem dado na cabeça e Kawel protesta. É um homem robusto e baixo. Ele não deve ser muito mais novo que ela e eu vejo certa semelhança entre os dois - talvez sejam irmãos.

     - Por que me bateu, Ghia? - choraminga Kawel.

     - Essa não é a princesa Sonya, seu grande imbecil!

     Kawel me encara de testa franzida.

     - Cruzes! - ele cobre a boca com as duas mãos. - Os olhos são diferentes...

Amor e Liberdade #1Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang