Amor e Liberdade #1

Capítulo 27

     Sorrio para meu reflexo.

     Acho que não vou me acostumar a tanto luxo tão cedo. Uso um vestido pérola bordado com belos arabescos prateados, com mangas bufantes e uma longa saia de pregas que me faz sentir uma verdadeira princesa. Como o jantar de hoje é para receber o duque, Ghia escolheu um vestido mais encantador do que o normal para mim e arrumou meus cabelos num coque elaborado. O espartilho me incomoda e o pó de arroz me faz espirrar vez ou outra, mas fico bastante satisfeita com o resultado.

     Por algum motivo, penso em Kieran.

     Eu decidi deixá-lo ir para abrir espaço em meu coração, mas isso só tem feito com que eu pense ainda mais nele. Penso no que ele diria se soubesse de toda essa confusão em que me meti.

     - Olhe só isso - Ghia resmunga, ajeitando minha saia. - Pare quieta por um momento, sim?

     As reclamações dela me lembram madame Daisy e meus olhos se enchem de lágrimas.

     Não.

     Anna está morta. Ela se foi com seu amado Kieran e quem está aqui é a princesa Sonya numa missão diplomática para salvar seu povo. Princesas não choram antes de um jantar importante, princesas mantêm a cabeça erguida e um sorriso radiante no rosto, não importa o que aconteça. Eu sou uma princesa.

     - Pronto - Ghia suspira. - Está pronta, Alteza.

     Mordo o lábio.

     - Estou nervosa. Esse duque é tão importante assim?

     - Mas é claro. Ele é primo em primeiro grau do rei Kilian e da rainha Irene.

     Meus ombros murcham. Primo? Irene se apaixonou pelo primo e por isso não puderam ficar juntos?     

     - Duque Elmo e duquesa Shantara viriam apenas para celebrar seu casamento, Alteza, mas algo os trouxe mais cedo.

     Olho para ela, curiosa.

     - Mesmo? O quê?

     Ghia faz uma carranca.

     - Ora, como é que eu vou saber?

     Reviro os olhos. Ela é tão antipática às vezes.

     Como de costume, sou escoltada por guardas reais até a sala de banquete, de onde ouço o som agradável de música e conversas. Assim que as portas se abrem para mim, atraio olhares das pessoas no salão. Há mais gente aqui hoje do que imaginei que haveria - quase tantas pessoas quanto no banquete de noivado. Fico constrangida, mas me forço a agir como uma princesa e finalmente chego onde rei Kilian e rainha Irene estão conversando com um jovem casal. Devem ser duque Elmo e duquesa Shantara, de quem ouvi tanto falar.

     Assim que me vê, a expressão fria do rei torna-se uma expressão agradável e, por um segundo, acho até que ele sorri para mim.

     - Aqui está ela - ele diz ao casal, gesticulando na minha direção.

     - Oh, princesa Sonya - o duque faz uma reverência para mim.

     - Alteza - a duquesa também me reverencia.

     - Duque, duquesa - cumprimento-os. - É um prazer.

     Posso afirmar sem pensar duas vezes que esse casal parece ter sido feito um para o outro. Seus sorrisos têm o mesmo brilho, altura dos dois combina e o braço dela enlaçado no dele parece feito sob medida. A única coisa que me impede de dizer essas coisas em voz alta é a expressão no rosto da rainha Irene. Eu a conheço muito pouco ainda, mas seu sorriso é tão artificial quanto as botas de couro ilegítimo que minha amiga Vega comprou uma vez e seus olhos parecem exprimir dor. É natural, já que o homem que ela amava está agora de frente para ela, casado com outra e feliz. Fico imaginando como me comportaria se estivesse no lugar de minha amiga agora.