Capítulo 19

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     Paramos para esticar as pernas e descansar na peculiar cidade de Tassia. Logo que desço da carruagem, sinto a diferença no ar - que definitivamente é mais pesado que o de Liriel e faz meus olhos arderem um pouco. É a primeira cidade que visito e parte de mim fica animada por conhecer pessoas e lugares diferentes dos que eu já estou acostumada.

     A maioria das casas, estalagens e outros estabelecimentos é feita de rochas escuras e bem grandes. Enquanto caminhamos pelo mercado principal, Kieran me conta que a cidade depende quase inteiramente da mineração e que isso faz com que os corações dos moradores sejam duros como pedras - a menos, é claro, que haja um pouco de ouro envolvido. Conforme caminhamos, vejo os aldeões circularem pelo mercado, visitando as barracas e carregando suas compras. É quase como um formigueio cinzento.

     Kieran apoia a mão em meu ombro, conduzindo-me até um estabelecimento rústico, feito de rochas e madeira.

     - Faz um ano desde que estive nesse lugar e nada mudou - ele diz, assim que entramos. - Continua reconfortante.

     E ele está certo. Assim que piso no hall, sinto a atmosfera cálida e aconchegante do lugar relaxar meus ombros tensos. Só então eu me dou conta do quanto estou exausta.

     - Meu senhor, minha senhora - uma jovem faz uma reverência e estende as mãos para recolher nossos mantos.

     O hall está movimentado - há hóspedes chegando e saindo, empregados carregando bagagens, lençóis e travesseiros, e pessoas bebendo chá diante da lareira. Sinto o cheiro doce e suave de camomila e chocolate.

     - Senhor Bjorgman! - um homem baixo, careca vestido de forma extravagante se aproxima e alegremente cumprimenta Kieran. - Há quanto tempo!

     Kieran sorri.

     - É bom vê-lo, George. - Ele olha ao redor. - Vejo que as coisas estão muito movimentadas hoje!

     - Ah, graças à ajuda de sua família no ano passado, as coisas só melhoram. Consegui até mesmo um dote adequado para minha Tarsila!

     - Fico feliz em saber. Ela deve estar animada.

     Os olhos escuros de George pousam sobre mim e ele sorri com mais intensidade. Suas bochechas são muito vermelhas.

     - E quem seria esse raio de sol?

     Sorrio, lisonjeada. 

     Kieran apoia a mão em meu ombro suavemente.

     - Essa é minha noiva, Anna, de Liriel.

     Faço uma reverência e George também. Ele me olha impressionado.

     - Liriel? Puxa... Nunca conheci alguém do extremo norte. É uma honra, senhorita.

     - O prazer é meu - digo.

     - Bem - George junta as mãos -, os quartos que o senhor reservou estão prontos. Espero que sua estadia seja muito agradável.

                                                                                        ***

     Abro os olhos devagar, sem querer acordar de verdade. Os lençóis quentes da cama macia me abraçam como nuvens, quase me fazendo esquecer que tenho que voltar à vida cinza que agora vivo. É quase assustador o quão rápido minha vida mudou de uma hora para outra.

     Levanto-me, descansada, e caminho até a bacia de água para lavar o rosto. Troco minha camisola por meu vestido marrom de botões - que antes eu achava sério demais e sem graça, mas que agora combina com meu humor - e ajeito meus cabelos num coque alto e bem preso. Calço minhas botas e logo ouço três toques na porta de meu quarto.

Amor e Liberdade #1Where stories live. Discover now