Amor e Liberdade #1

Capítulo 20

     A carruagem que nos espera está muito bem escondida em uma imensa floresta de pinheiros. Kieran e eu cavalgamos em um bom ritmo até avistarmos meia dúzia de homens em seus cavalos, esperando por nós. Eles não usam as cores tradicionais de Liriel em seus uniformes, o que me faz deduzir que vieram da terra de Kieran, Trollstone.

     Paro meu cavalo quando Kieran para o dele e desmonto sem muita dificuldade. Papai montava muito bem e, apesar dos incessantes protestos de madame Daisy, me ensinou alguns de seus melhores truques. Pensar nele me faz sentir como se, de alguma forma, ele ainda estivesse cuidando de mim agora.

     - Com licença, senhorita - um dos homens se aproxima e me pede as rédeas do meu cavalo. Eu lhe entrego e me concentro em limpar a neve de minha saia.

     - Venha, Anna - Kieran se aproxima e segura minha mão -, você precisa comer alguma coisa.

     Eu deixo que ele me guie para dentro da carruagem e nós comemos frutas e pão e bebemos leite morno. Meus olhos não deixam o rosto de Kieran nem por um minuto e eu fico tentando adivinhar o que ele está pensando. Desde que nos vimos pela primeira vez, eu gostei dele. Ele sempre foi muito honesto e transparente sobre suas intenções comigo, mas ainda sinto que há uma parte dele que está oculta e distante de mim. Isso me intriga.

     - Seu pai estava investigando o incidente daquela jovem que morreu pouco antes dele - Kieran diz, subitamente, entre um gole e outro de leite. Seu olhar não encontra o meu.

     - Martha? - sussurro.

     Ele confirma.

     - Foi um caso que colocou toda a vila em alerta, mas seu pai estava especialmente preocupado. Nos poucos momentos em que o acompanhei, ele me pareceu extremamente aflito e queria encontrar o culpado o mais rápido possível.

     - Isso... não é algo normal? - indago. - Afinal, o prefeito deve se preocupar com o bem estar de todos.

     Os olhos cálidos de Kieran buscam os meus.

     - Era mais do que isso, Anna - sussurra. - Em nossa última conversa, ele pediu que eu cuidasse de você se algo acontecesse com ele. Como... como se ele soubesse que iria morrer...

     Arregalo meus olhos.

     - O que quer dizer com isso?

     Kieran apoia os cotovelos nos joelhos, aproximando seu rosto do meu. Ele parece mais sério do que nunca.

     - Anna, eu tenho uma teoria... - ele sussurra, olhando rapidamente de soslaio para a janela da carruagem. Então seus olhos voltam para meu rosto. - Creio que seu pai sabia quem era o culpado pela morte da garota. Acho até que o conhecia. E ele sabia do risco que estava correndo quando...

     - Pare - eu interrompo, assustada.

     Kieran me encara.

     - Você... você está me dizendo que... meu pai sabia que ia morrer? Que ele sabia quem era a pessoa por trás da morte de Martha? E mesmo assim ele... - sacudo a cabeça, rindo de um jeito histérico. - Não é possível. Por... por que está me dizendo essas coisas?

     Kieran franze a testa.

     - Você me pediu que contasse, não se lembra?

     Sacudo a cabeça outra vez.

     - Isso não tem nada a ver com as pessoas de quem estávamos fugindo hoje mais cedo - minhas mãos estão tremendo. - Quem são? Por que você disse que estavam atrás de mim?