Amor e Liberdade #1

Capítulo 23

     Olho-me no enorme espelho de moldura dourada e mal posso conter um arquejo surpreso. Estou tão bonita e brilhante que nem pareço mais eu mesma - e acho que essa foi exatamente a intenção de Ghia quando me arrumou assim. Agora eu sou uma princesa, sou a princesa Sonya que foi prometida ao rei Kilian para salvar seu povo da miséria. Estar bonita assim será uma de minhas funções a partir de hoje e talvez eu me acostume mais rápido do que pensei ser possível.

     Meu vestido é a coisa mais luxuosa que já usei na vida. É azul marinho, feito de veludo e tafetá e bordado com arabescos prateados. A saia é imensa, bastante rodada e faz um movimento muito gracioso quando eu giro. A gola alta me sufoca um pouco e o espartilho aperta minhas costelas com força, mas eu me forço a aguentar. Meus cabelos caem soltos por minhas costas e ombros, em uma cascatas de cachos cuidadosamente modelados por duas criadas que ajudaram Ghia a me preparar; uma delas traz uma tiara prateada e coloca em minha cabeça. Também me enfeitam com joias tão lindas que me deixam de olhos arregalados.

     - Está pronta - suspira Ghia, enxugando gotas de suor da testa com as costas da mão.

     Abro um sorriso gigante e olho para ela.

     - Obrigada, Ghia. - E me volto para as duas outras criadas. - Obrigada por seu trabalho.

     Ambas fazem reverência ao mesmo tempo, de cabeça baixa.

     - Vou sair por um momento - diz Ghia. - Por favor, não se mova muito, alteza. Não deve estragar nosso trabalho.

     Vejo as criadas ficarem espantadas com o jeito autoritário como Ghia fala comigo e tento suavizar a atmosfera.

     - Você é sempre tão direta - rio, dando-lhe tapinhas no ombro. - Não se preocupe, ficarei quieta até você voltar.

     Ghia faz uma reverência e deixa meus aposentos sem dizer mais nada. Sinto meus ombros relaxarem um pouco, sem deixar de permanecer alerta, pois as criadas ainda estão presentes. Encaro mais uma vez meu reflexo no espelho e suspiro, lembrando-me do quanto eu sempre quis deixar Liriel e visitar a corte usando vestidos assim. É um infortúnio que essas coisas estejam acontecendo dessa forma - sem que eu seja eu mesma. Imagino o que madame Daisy diria se me visse agora e o que Vega e Reidi achariam de meu vestido sofisticado. Penso até no príncipe Klaus, que parece ter simplesmente desaparecido após aquela manhã em que nos encontramos. Penso em papai e em Kieran, o tempo todo.

     - Como ele é, hein? - pergunto repentinamente a uma das criadas.

     Ela parece confusa. É tão nova que duvido que tenha mais de treze anos.

     - Perdão, Alteza? - sua cabeça se ergue um pouco.

     Viro-me para olhar para ela.

     - O rei Kilian - esclareço. - Que tipo de rei é ele?

     As duas criadas trocam um rápido olhar.

     - Bem... - a criada que parece ter treze anos baixa os olhos para o chão.

     - Sua... Sua Majestade é um rei que enfrenta muitas guerras, então ele é um guerreiro habilidoso... - diz a outra, sem fazer contato visual comigo. - Ele mantém a ordem e a paz em Coronte e é justo.

     Ergo minha saia e caminho para mais perto delas, que se encolhem conforme me aproximo. Isso é desconfortável, é como se tivessem medo de mim.

     - Ele é bonito? Velho, jovem...? - atrevo-me a perguntar, abandonando o tom formal para tentar diminuir essa distância entre nós.

     Consigo fazer uma delas sorrir discretamente, mas as duas ainda evitam olhar para mim.