𝐗𝐕𝐈𝐈: 𝐄𝐧𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨 𝐃𝐨𝐞𝐧𝐭𝐢𝐨ʳ

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       Eles levantaram quando o sol surgia no horizonte e trazia consigo seus feixes de luz quentes e dourados, iluminando cada grão de areia daquela vastidão desértica. Eles pegaram suas coisas, caminharam por entre os inúmeros destroços e chegaram na cidade quando o sol ardia no meio do céu. Pararam, ofegantes, dentro de um prédio para abrigar-se da luz quente e puderem descansar um pouco. Annie ofereceu a Gally, que estava ofegante e empapado de suor, a água de seu cantil. O jovem aceitou tomando longos goles. Para o garoto, Annie parecia tranquila demais com tudo aquilo, ele por sua vez estava quase surtando e seu cérebro parecia que derreteria com aquele calor. Era impossível sequer pensar.

 — Como você está tão calma? – ele perguntou quando estavam mais tranquilos, sentados com as costas apoiadas na parede rachada enquanto olhavam a entrada.

 — Já passei por isso antes. – comentou, a voz não passando de um sopro cansado – Incontáveis vezes que me perdi no deserto e tive que achar o caminho de volta, bom, metade dessas vezes o pessoal me encontrava, mas outras não.

 — Tem alguma chance de eles nos encontrarem? – ela deu de ombros – E se não chegarmos até lá? Estamos muito longe.

 — Vamos chegar de um jeito ou de outro. – murmurou ajeitando-se no chão e usando a própria bolsa de travesseiro – Me acorde em uma ou duas horas.

 — Espera, o que? Você vai dormir?

 — Lógico, preciso descansar para que seu traseiro continue intacto durante a noite.

 — E o que eu faço?

 — Vigie. Se ouvir algo estranho ou ver alguém, então me chame sem fazer alarde.

       Annie se deitou, cobriu os olhos com o antebraço e no segundo seguinte sua respiração já estava pesada mostrando que já havia dormido. Os sonhos da garota voltaram, às imagens aleatórias não seguiam uma linha exata de acontecimentos. Primeiro via uma cidade destruída, depois um carro pegando fogo, uma garotinha vestida com trapos sujos enquanto abraçava os próprios joelhos com olhar faminto. Normalmente a voz de Lawrence soava ao final, onde ele a encontrava e ela despertava, mas dessa vez outra coisa a despertou. Um grito estridente e longo.

        No mesmo segundo já estava de pé, olhando tudo ao redor com a visão ainda embaçada tentando entender quanto tempo havia passado e porque tudo estava mais escuro do que devia parecer.

       Quando a visão estabilizou, olhou o relógio e viu que marcava quinze para as seis horas. Gally dormia tão profundamente ao lado que ouviu até um pequeno engasgo. Outro grito soou, ela chutou a perna do garoto enquanto se abaixava apressada juntando suas coisas.

 — O que foi? – ele perguntou alto demais, o que fez a jovem tapar sua boca com uma das mãos.

 — O que deu em você, idiota? – questionou em um sussurro – Eu não mandei me acordar duas horas depois? Agora cala a merda da boca e não faz… – outro grito e dessa vez Gally percebeu, tanto que ficou em extremo alerta e totalmente apavorado – não faça nenhum ruído e só me segue, entendeu? Obedeça a todas minhas ordens. – ele concordou e então ela se afastou.

        Ela ajeitou a alça da mochila e então se levantou pegando com firmeza o cabo de sua faca. Olhou em volta, a fraca luz do fim da tarde iluminando precariamente o ambiente e deixando a cidade destroçada mais assustadora do que de manhã. Eles andaram, Gally a todo instante em seu encalço e em total silêncio, seguiram por um caminho estreito até entrarem em um dos prédios. A todo instante podiam ouvir os gritos, uns mais pertos e outros mais distantes, e Annie sentia que o número aumentava. Seguiram por um corredor estreito, várias portas abertas que davam a quartos em ruínas, com móveis destruídos e buracos e rachaduras nas paredes.

        Annie iluminou tudo com sua lanterna, mantendo a borda próximo ao antebraço direito caso precisasse pressioná-la contra sua pele para diminuir o brilho enquanto sua mão direita segurava com firmeza a faca. Escutaram um grito agudo bem perto, a alguns metros dali no mesmo andar, Annie prendeu a respiração enquanto se virava e agarrava a mão de Gally o puxando. Foram até uma sala ali, a porta rangeu quando empurrou, mas havia uma estante na frente e a lateral dela impedia que a porta encostasse na parede.

        Esse pequeno espaço era perfeito para se esconder por um curto período de tempo, mas era ideal para uma pessoa. Annie empurrou o garoto até lá, o empurrou contra a parede e estava a ponto de buscar outro lugar, mas uma movimentação no corredor a frente a fez se jogar naquele pequeno espaço. Seu corpo colidiu contra o do garoto, ele soltou um pouco a respiração que prendia e então fechou os olhos com força quando ouviu o som que aquela criatura fez ao dar o primeiro passo para dentro da sala.

       Annie sentiu a tensão aumentar, seu corpo todo suava e estava tenso, Gally atrás dela tremia em completo medo e pavor. Os dedos da garota seguravam com força o cabo da faca, o coração pulava e pulsava com força em seu peito enquanto sentia sua garganta fechar. O suor escorria por sua testa vez ou outra caindo em seus olhos e os fazendo arder, mas não podia piscar enquanto aquela criatura estivesse ali do lado.

        O cranck emite alguns ruídos com a garganta, junto desses estava um som gorgolejante do fundo de sua garganta, aquilo fez o estômago da garota queimar e o fel subir para sua boca. Ele andou com passos cambaleantes adentrando mais a sala, procurava por eles como se soubesse que estavam ali, mas não sabia onde encontrá-los. A decisão de Annie era esperá-lo sair dali, esperar que cansasse daquela sala e fosse para outra, mas os dedos trêmulos de Gally agarraram sua cintura e ela sentiu uma súplica ali. Sem pensar, a jovem esgueirou-se um pouco abrindo devagar a porta para ver o infectado e se podia agir. 

        Ele estava a alguns passos deles e de costas, Annie aproveitou a deixa e saiu. Andou a passos lentos até o infectado, a faca firme em suas mãos, quando estava perto o suficiente o atacou rapidamente penetrando a faca na nuca do mesmo. Ela o segurou prendendo a respiração para não sentir aquele odor pútrido proveniente do mesmo e o largou ao chão sem fazer barulho. Limpou o sangue fétido da faca na roupa esfarrapada do mesmo e ajeitou a postura, a porta se mexeu emitindo uns estamos e ela pode ver precariamente a sombra de Gally.

          De repente ela ligou a lanterna direcionada a ele e o mesmo se encolheu em susto, Annie abafou um riso e foi até o mesmo segurando sua mão e levando até um esconderijo conhecido. Os infectados continuavam gritando, mas nenhum estava dentro daquele prédio e eles puderam ir até o terceiro andar. Ao fim do corredor havia uma pequena sala, havia uma mesa no canto e graças a luz da lanterna era possível ver uma porta no teto.

 — O que é aquilo? – Gally perguntou em um sussurro.

 — Nosso esconderijo. – respondeu entregando a lanterna para que ele segurasse – Vamos.

INFECTED (Gally Maze Runner)Where stories live. Discover now