8: A Tendência Incurável ao Desastre

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Meus conceitos de lugar sujo foram modificados no momento em que pisei naquela lanchonete de esquina

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Meus conceitos de lugar sujo foram modificados no momento em que pisei naquela lanchonete de esquina.

Eu, que achava que o quarto de Paulo era um aterro sanitário, surpreendi-me quando adentrei no estabelecimento em questão e fitei os guardanapos usados espalhados pelas mesas, na companhia de sachês vazios de ketchup e mostarda, bem como os casais de mofo com seus respectivos filhos-funguinhos escalando as paredes.

Pelo que me falara, Jader adorava aquele lugar. E eu tentava entender, desde quando chegamos, o motivo desse seu gosto exacerbado. Talvez, fosse pelo ar ligeiramente confortável que a lanchonete perpassava quando se observava direito, evidente nos feixes de luz cor de oliva que adentravam pelas metades da porta de vidro permeada de anotações em piloto sobre as promoções do dia, com seus vislumbres ensolarados crepitando nas partículas de poeira que vagavam pelo ar como astros no meio do infinito em expansão do cosmos. Tudo isso tornava o ambiente morno, agradável.

- E aí, o que vai pedir? - O timbre do ruivo ecoou, varrendo aqueles pensamentos da minha cabeça.

Mirei seus olhos, distantes graças ao tampo da mesa entre nós.

- Eu acho melhor a gente não pedir nada. - Praticamente supliquei.

- Por quê?

- Fala sério, qualquer coisa aqui deve vim com uns cinco tipos diferentes de doença. Acho que nem os ratos tem coragem de entrar nessa joça, com medo de pegarem leptospirose.

Ele riu.

- Essa joça - Gesticulou para o ambiente ao redor. - Vai garantir o nosso almoço, cactozinho. E aqui tem a melhor batata frita da cidade! Não posso garantir a integridade das suas artérias quando terminar de comer, mas até hoje não morri. E venho quase todo dia.

A garçonete se aproximou da nossa mesa, com os seios bem ressaltados pelo decote que lhe caía muito bem, demarcando as curvas chamativas do corpo.

- O que vão querer hoje? - questionou educadamente, mantendo as íris fixas no ruivo próximo a mim com uma centelha de interesse enfeitando seu castanho.

- A porção grande de batatas fritas, por favor. - Jader pediu por mim, lançando um sorriso fechado à moça, o qual ela correspondeu de imediato, em uma satisfação notável.

Arregalei ligeiramente olhos, observando-a se afastar.

- Ai, meu Deus, o que eu acabei de presenciar aqui? - Descontração enfeitou minhas sílabas.

- Só estava sendo educado. - ele se explicou, afundando os cotovelos na superfície de plástico à sua frente.

- Sei... - Ergui a sobrancelha, deixando um sorriso torto pender em meus lábios.

- Tô falando sério. Ela é bonita, mas... meio que não faz o meu tipo. - Seu nariz se torceu em uma careta, as inúmeras sardas se repuxando no processo. - Quer dizer, pelo menos, não por agora. Nem conheço ela. Talvez se eu conhecesse, ela poderia ser o meu tipo. Ou não.

Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo AquiWhere stories live. Discover now