21: Entre Varetas Coloridas e Óculos de Disco

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Depois que saí do lar dos Rodrigues, acometida por uma epifania acerca de Jader, encostei-me na parede do corredor por alguns instantes, deixando a cabeça pender para trás e o ar escapar dos pulmões em um suspiro, até usar o pé como impulso para s...

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Depois que saí do lar dos Rodrigues, acometida por uma epifania acerca de Jader, encostei-me na parede do corredor por alguns instantes, deixando a cabeça pender para trás e o ar escapar dos pulmões em um suspiro, até usar o pé como impulso para sair do abraço da superfície gelada.

Eu já sabia o que fazer, só não tinha muita ideia de como colocar em prática.

Na segunda, chamaria o ruivo para conversar. Estava decidido.

Clarice teve um pequeno compromisso inadiável no dia seguinte, de modo que precisei ficar novamente com as crianças. O esforço que fiz para conseguir manter o foco foi tão grande que me surpreendi em não ter saído ondas de fumaça da minha cabeça, imersa em uma maré alta de ansiedade que estava quase me fazendo contar as horas remanescentes até a segunda.

Após trocar algumas palavras com Clarice depois da sua chegada, segui pelo corredor até estacionar em frente à porta do meu apartamento. Virei a chave na maçaneta, empurrei o corpo para dentro e a fechei em seguida.

Puxei os tênis e o par de meias para fora dos pés e os tomei por entre os dedos, forçando-me a caminhar o que restava até chegar na sala.

Assim que as miçangas da cortina pincelaram minha pele, fui presenteada com a visão de pelo menos cinco pessoas aglomeradas entre o tapete e o sofá.

Latas de refrigerante se espalhavam pelo piso, juntamente com embalagens de salgados e doces, enquanto pelo menos quatro garotos berravam feito hienas ensandecidas com algum jogo sanguinolento que se desenrolava na televisão.

A presença masculina naquele lugar, graças à Paulo, era bem constante. Não me incomodava de forma considerável como há algum tempo, quando sequer saía do quarto nas tardes em que ficavam lá, até que comecei a perceber que os seus amigos, apesar de terem cérebros do tamanho de uma semente de azeitona na maior parte das vezes, eram inofensivos.

Em sua maioria.

- Paulo, o que tá acontecendo aqui? - Elevei o tom, assim que lembrei do horário.

Os olhos do meu irmão se desviaram para mim, ligeiramente arregalados.

- Como é?

- A mãe vai chegar daqui a pouco, e olha a situação dessa sala! Vai fazer isso tudo sumir como em vinte minutos? Aspirando com o nariz?

Ele riu.

- Minha digníssima irmã, hoje é dia de farra!

Eu sabia exatamente o que queria dizer com aquela frase. Significava que mamãe tinha ido para a casa do namorado, como acontecia na maior parte das sextas, e teríamos o apartamento todo para nós até, pelo menos, a tarde de sábado.

Nesses dias, Paulo costumava convidar alguns amigos e amigas para ficar jogando e conversando até quase a madrugada. Gertrudes não via nada demais, desde que ninguém levasse drogas, não fizessem barulho a ponto de incomodar os vizinhos e não transassem em cima da cama dela.

Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo AquiWhere stories live. Discover now