15: O Espaço, Planetas e Buracos Negros

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- Certo

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- Certo. - pontuei, na minha milésima volta em círculos pelo quarto. - Primeiro, entenda que nada que eu vou falar aqui é necessariamente regra geral. Elas se aplicam à Mari.

Jader estava sentado na cadeira em frente à mesa que abarcava a gaiola do Bolota, os cotovelos apoiados na madeira e o queixo mergulhado em um dos punhos, enquanto tinha o indicador da outra mão roçando suavemente na pelagem do bicho. Suas orbes de caramelo se encontravam cravadas no coelho com uma atenção impressionante.

Era noite de segunda-feira, e a presença do ruivo se fazia palpável há poucos minutos. Sua mochila estava jogada casualmente em um canto do cômodo, como constatação visual de que certamente não tinha parado em casa desde quando saiu do colégio, mais cedo, e foi trabalhar com o tio.

Pelo cheiro característico do seu sabonete impregnado na pele marcada por sardas por toda parte, e aos fios vermelhos ligeiramente molhados, percebi que ao menos tinha tomado banho. E, por um instante ou dois, questionei como ainda tinha ânimo para me ouvir tagarelar sobre os conselhos femininos que tinha me cobrado mais cedo, relacionados à minha parte do nosso acordo.

Quer dizer, ele estava parcialmente ouvindo, porque a cada dois segundos se distraía com alguma coisa aleatória do meu quarto, como uma criança diante de um parque de diversões feito de todo tipo de doce.

- Será que dá para você se concentrar no que eu tô falando? - indaguei, na esperança de atrair sua atenção.

- Esse coelho vai ter um infarto qualquer dia desses. - Foi o que disse, finalmente se virando para me observar.

Rolei os olhos, indignada por ser a segunda vez que ouvia aquilo no intervalo de uma semana.

- Por que você acha isso?

- Assim como pássaros, coelhos não foram feitos para ficar em gaiolas, cactozinho. Eles precisam fazer umas caminhadas pra esticar as patas, correr, pular, essas coisas, pra não ficarem doidos.

Seus dedos tatearam as grades de metal até encontrarem o fecho, abrindo a gaiola e, em um instante, ele tomou o Bolota nas mãos.

O bichinho era gordo, mas tão pequeno que cabia tranquilamente entre as palmas de Jader. Surpreendi-me quando começou a cheirar os dedos do ruivo, aninhando-se nele de um jeito que nunca fez comigo.

- Como você fez isso? Eu tenho esse coelho há meses, e ele nunca fez esse negócio comigo!

O garoto deu de ombros. Em seguida, abaixou-se e colocou o Bolota no chão, onde o traidor se pôs a arrastar a bundinha gorda para longe de nós.

- Acho que é meu cabelo. Talvez ele tenha achado que eu sou uma cenoura gigante.

Não pude conter um riso.

- Faria mais sentido se você fosse laranja e tivesse o cabelo verde.

- Não estraga a piada, cactozinho. - Torceu o nariz em uma careta.

Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo AquiWhere stories live. Discover now