10: Refrigerante Laranja

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– Isso vai dar merda

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– Isso vai dar merda. — decretei, assim que Jader estacionou ao meu lado, levando a lata de Fanta que fora comprar aos lábios.

Meu tom certamente exprimia a mais crua convicção; afinal, era impossível que aquilo fosse uma ideia segura a ponto de não resultar na minha morte.

O pensamento foi o estopim para que minhas pernas, enfim, cedessem. As minúsculas pedrinhas sobre o concreto da área entre as rampas arranharam minha pele assim que as coxas afundaram no chão e as costas descansaram na curva da rampa atrás de mim, da forma mais passível de um desvio futuro na coluna.

Meu sangue estava quente, em um misto de adrenalina e irritação que destoava de toda a paciência e positividade de Jader.

Era indignante o fato de conseguir se manter tão calmo, enquanto a minha vontade era de tocar fogo no mundo toda vez que errava alguma manobra.

Talvez tenha sido esse contraste que me fez perceber o quanto a sua presença era agradável, com todos os sorrisos que pareciam feitos de sol e palavras macias que me faziam acreditar que as coisas de fato poderiam dar certo, nem que fosse de uma forma meio torta.

Entretanto, a segunda rampa, à minha frente, parecia cumprimentar as nuvens no céu de tão imensa. Sentia-me prestes a escalar uma amostra generosa do Monte Everest, besuntada com concreto para esconder a sua real natureza.

Tudo bem, ela mal tinha três metros, mas para mim, era alto para caramba. As chances de dar errado eram muito maiores do que de dar certo, mas não restavam muitas opções.

Antônio estava andando de skate numa rampa muito maior, há alguns metros de nós.

Basicamente, eu tinha que replicar umas manobras esquisitas que Jader passara as últimas duas horas me mostrando como executar, e eu já tinha conseguido com parcial sucesso há poucos minutos, em outra rampa de tamanho razoável.

Eram simples. Eu já tinha conseguido uma vez, ia conseguir de novo em uma elevação maior.

Não, eu com certeza não ia conseguir naquela coisa altíssima. Era demais para a minha estatura de hamster chinês sedentário, e tornava as chances de eu sair daquela praça em uma maca com pelo menos metade dos meus ossos fraturados, ficar paraplégica ou morrer, beirar a certeza total.

– Vai dar certo, sim. Pense positivo, cactozinho. – Jader incentivou, cutucando meu tênis preto desbotado com a ponta do seu all star azul.

Despreocupadamente, ele mergulhou a mão livre nos bolsos da bermuda vermelha com suspensórios e venceu a pouca distância entre nós, entornando mais um gole do refrigerante laranja.

— Já parou pra pensar nas coisas que colocam no refrigerante pra tornar ele mais gostoso? — indagou, de súbito.

— Já. Tem uns xaropes, açúcar pra caramba e mais uma centena de porcarias que vão matar a gente em algum momento.

Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo AquiWhere stories live. Discover now