16: Rabiscos, Rabiscos, Irmãos à Parte

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Acordei em alguma parte da noite com uma pressão súbita no peito, que me fez abrir as pálpebras em meio ao susto e contemplar o breu que banhava o quarto

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Acordei em alguma parte da noite com uma pressão súbita no peito, que me fez abrir as pálpebras em meio ao susto e contemplar o breu que banhava o quarto.

Percebi de imediato que o meu nariz pinicava e havia uma sensação estranha carimbada no meu rosto, ligeiramente gelada e que me dava vontade de coçar a pele com uma lixa.

Confusa, tateei o vazio escuro à minha frente, sentindo meus dedos tocarem em uma pequena montanha de pelos macios com orelhas imensas.

Tirei o Bolota de cima de mim e, um tanto desnorteada graças ao breu quase absoluto, impulsionei o corpo para levantar. Depois, guiada pelo senso de direção bagunçado graças à sonolência que embebia meu cérebro, caminhei até onde achava estar o interruptor e escorreguei a mão pela parede até clicar nele.

A luz acendeu, cegando meus olhos por um momento, e pressionei a maçaneta da porta logo ao lado para abri-la. Assim que o fiz, deparei-me com a sala imersa em uma escuridão parcial, cortada apenas pelo brilho da televisão que exibia a cena de alguma sitcom dos anos noventa que Paulo gostava.

Meu irmão estava mergulhado no sofá e, após ouvir o rangido típico da porta, virou a cabeça para me encarar. Mas não falou nada, apenas limitou-se a soprar um riso.

- A mãe veio pra casa? - indaguei, a voz rouca, enquanto esfregava o nariz.

- Não. Saiu do trabalho e foi dormir na casa do namorado, de novo. - explicou, e eu assenti. - Ainda bem.

Não entendi a ênfase que deu na última frase, muito menos a risada escondida por trás dela, mas optei por não discutir sobre. Apenas tracei a rota até o banheiro, acendi a luz e fechei a porta atrás de mim, pondo-me a ir até o vaso sanitário.

Depois de fazer xixi e pressionar a descarga, fui até a pia, ligando o fluxo de água para lavar as mãos. E, assim que joguei a cabeça para frente e mirei minha imagem refletida no espelho, meus olhos se arregalaram quase até caírem das órbitas.

Meu rosto tinha se tornado um receptáculo de rabiscos aleatórios feitos com tinta e uma caneta que rezei para não ser permanente, vermelho cobrindo boa parte do meu nariz como em um palhaço de circo, marrom traçando um bigode extremamente bizarro acima do meu lábio e outras cores esboçando inúmeras idiotices que só o meu digníssimo irmão seria capaz de pensar.

A última vez que ele tinha feito algo do tipo em mim estava tão distante no tempo que sequer lembrava quantos anos tínhamos.

Bufando, abri a porta do banheiro, repentinamente mais acordada do que já estive em toda a minha vida, e mais disposta do que nunca a arrancar as orelhas do filho da mãe e colocar para cozinhar.

Hiperbolicamente falando, é claro.

Acendi a luz da sala e Paulo deu um sobressalto. Logo que seus olhos alcançaram os meus, percebendo a fúria que crepitava por entre eles, o garoto saltou do sofá e disparou para o próprio quarto, batendo a porta na minha cara instantes antes de eu alcançá-lo. O eco da chave sendo girada na fechadura reverberou no milésimo seguinte.

Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo AquiTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang