38: A Dança no Fim do Mundo

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A noite vista pelos olhos dele era excepcionalmente bela

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A noite vista pelos olhos dele era excepcionalmente bela.

O manto negro infestado de salpicos cintilantes se estendia acima das nossas cabeças, pulsando em uma orgia frenética de constelações que desaguavam na linha do fim do mundo que eu conseguia ver no horizonte, e reluziam nas íris de Jader como se elas fossem dois espelhos capazes de refletir dimensões inteiras.

Estávamos deitados na lataria do carro estacionado próximo ao meu prédio, sem nos importarmos com o passar ocasional de um carro em profusão ao nosso lado ou com o diminuto tráfego de pessoas àquele horário.

— Se o mundo acabasse amanhã... — ele começou a falar, baixinho. — E só sobrassem algumas pessoas depois do fim disso tudo, como elas ensinariam os seus descendentes o que a Terra um dia foi? Será que... nossa evolução voltaria praticamente do início?

Comprimi os lábios, ponderando acerca da minha resposta.

— Talvez. Porque nós temos a tecnologia, os carros, navios melhores que não têm mais medo de chegar ao limite do mundo e cair no espaço, aviões supersônicos, mas quase ninguém sabe como tudo isso funciona.

— É verdade. — concordou. — As coisas que temos hoje seriam como lendas que os mais velhos contariam, até se perderem no tempo. Nossa história, personalidades importantes, nada importaria depois de uns duzentos anos de fim do mundo. — Sua constatação foi melancólica. — É bizarro pensar em como tudo é tão facilmente esquecido.

— Nem tudo. Acho que o essencial nunca será. Por exemplo, eu posso te dizer uma coisa incrível agora que mude o seu ponto de vista sobre algo. A gente pode terminar, mas ainda assim vai ficar isso em você, grudado em algum canto da sua cabeça. Depois de uns cinquenta anos, você pode ter passado essa coisa que eu disse para muita gente, mesmo que não lembre que fui eu quem te falei. A essência da coisa bonita permanece no mundo. Por isso, no fundo, acho que poucas pessoas são realmente apagadas. Porque todos tem algo bom para passar, mesmo que os créditos não sejam dados a esse alguém no final de tudo. Isso faz sentido?

— Para mim, sim. — entoou, com sinceridade, e um pequeno riso lhe escapou. — Acho que essa foi a vez que eu mais te vi falar até agora, cactozinho. Normalmente, esse papel é meu.

Dei risada.

— Às vezes, acontece.

Um pequeno manto de silêncio nos recobriu por alguns instantes; confortável, diáfano.

— O que você faria se descobrisse que o mundo está acabando, e não vai restar nada do que conhecemos? — o garoto questionou.

— Se eu não entrasse em pânico e gritasse durante todo o acontecimento, acho que eu colocaria meu melhor álbum e dançaria. Me parece uma boa forma de acabar. — Inclinei o rosto para fitá-lo. — E você?

Seus lábios se repuxaram em um sorriso sutil.

— Dançaria com você.

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Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo AquiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora