22: O Guaxinim de Meias, a Lesma e a Maria Sangrenta

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Eu acordei na segunda-feira que se sucedeu com uma pontada inconfundível no meu baixo ventre

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Eu acordei na segunda-feira que se sucedeu com uma pontada inconfundível no meu baixo ventre.

Demorei para levantar da cama, resmungando uma centena de espinhos em silêncio, por saber que a época do mês em que alguma força maligna resolvia bater no meu útero com um taco invisível tinha chegado.

Estava extremamente confortável ficar sob o meu lençol quentinho de rosquinhas aladas feito um projeto de burrito humano, completamente protegida dos pedaços de gelo que o início da manhã trazia. Porém, vi-me forçada a escorregar para fora da cama depois que o despertador ressoou Filha da Puta nos meus tímpanos pela quinta vez, com o vocalista de Ultraje a Rigor gritando juntamente com a guitarra.

Tinha virado meu toque desde o dia em que a ouvira com Jader, por algum motivo que os parafusos frouxos do meu cérebro não sabiam ao certo. Talvez, por me lembrar do quão maluco e, ao mesmo tempo, legal, fora aquela tarde.

Escorreguei para fora do colchão, deixando o lençol pendurado nos meus ombros como uma espécie da capa-ultra-protetora-do-frio, e saí me arrastando até o banheiro tão rápido feito uma lesma gigante em slow motion.

Assim que estacionei em frente ao seu espelho, ergui as sobrancelhas para a garota dentro de uma camisa meio amassada do Gorillaz, shorts de flanela e um par de meias frouxas de estampas diferentes, exibindo olhos de guaxinim e o cabelo preso em um rabo de cavalo extremamente mal feito, de onde centenas de fios escapavam em uma desordem costumeira.

Fisguei a escova de dentes por trás do espelho, despejando a pasta nas cerdas para levá-la à boca logo depois. Vislumbrei o amontoado de cachos do meu irmão estacionando na soleira da porta, e, pelo fervilhar na minha nuca, soube que estava me observando.

Cuspi a mistura de bolhas que tinha se formado sobre minha língua e deixei meus olhos caírem nos seus enquanto enxaguava a boca, percebendo a expectativa crepitante que nadava por entre suas íris.

— O que foi, Paulo? — indaguei, com a certeza de que deveria estar querendo alguma coisa.

— Nada. — Encolheu ligeiramente os ombros. — É só que... eu queria saber se você poderia ir na farmácia, depois das aulas, comprar uma coisa para mim.

Girei o corpo na sua direção, estatelando os olhos.

— Não vai me dizer que transou com alguém sem camisinha e agora precisa de uma pílula do dia seguinte, ou um teste de gravidez? — Minha indagação foi quase desesperada.

Seus orbes se arregalaram de forma imediata, em choque.

— O quê? Não! Eu quero chegar só nessa parte de... transar. Só que pra isso, eu meio que preciso de camisinha. — Levou a mão à nuca, notadamente envergonhado.

— Mas por que não quer ir sozinho?

— Porque eu... — Não precisou completar, pois o vermelho constrangido que subiu ao seu rosto denunciou o motivo.

Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo AquiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora