19: Adesivos e Soldados-mostarda

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Eu nunca pensei que perderia tanto em toda a minha vida, como aconteceu naquele dia

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Eu nunca pensei que perderia tanto em toda a minha vida, como aconteceu naquele dia.

Não foi em apenas um jogo; eu e Jader rodamos por absolutamente todas as máquinas daquele lugar, devorando a única coisa que compramos depois de juntar o dinheiro que tínhamos: balas e pirulitos, em um amontoado de cores, sabores e tamanhos.

Em pouco tempo, meus bolsos ficaram infestados de embalagens plásticas, de modo que parecia ter quatro montanhas crescendo sob o jeans e ameaçando arrebentá-lo, do tanto que eu estava comendo.

Pensei que fosse ter uma overdose de açúcar, mas a adrenalina não me deixava parar. Meus dedos doíam de tanto apertar botões em velocidade maior do que meus próprios pensamentos, manobrar joysticks e empunhar armas de plástico, apenas para receber, na maioria das vezes, a confirmação de que tinha perdido escrita na tela.

E, em todos os casos, tinha vontade de espernear como uma criança de cinco anos que não ganhou seu brinquedo favorito e estapear Jader por ser tão bom.

Aliás, ele não era bom. Ele era ótimo. Seus reflexos eram invejáveis, bem como as estratégias malucas que tinha descoberto. E, quando mais os minutos passavam, mais eu sentia vontade de esganá-lo por todas essas coisas. Porque ele era melhor.

Incontestavelmente melhor.

Pior ainda: Aquele filho da mãe sabia disso. Quando me desafiou a ganhar duas partidas em cada jogo, ele tinha certeza de que seria impossível.

Gradativamente, o movimento no fliperama foi diminuindo, até os únicos sons audíveis se reduzirem ao eco distante dos jogos esquecidos nas máquinas ao nosso redor. Eu não tinha consciência de mais nada enquanto fitava os pixels coloridos do último jogo dali e ansiava, desesperadamente, uma vitória.

O tempo não parecia ter uma existência palpável. Soava como uma memória distante, que se refugia em alguma gaveta da sua consciência e você esquece por horas demais, sem se dar conta, até mesmo, que ela um dia se fez presente.

A lateral dos nossos corpos se atritavam conforme a tensão gritava dentro de nós e implorava para se libertar na forma de um bater de pernas, ou empurrões não tão discretos na intenção de distrair um ao outro e ganhar vantagem.

O suor escorria pela minha nuca, testa e tantas outras partes que sequer conseguia contar, enquanto minhas veias pareciam prestes a explodir em furor.

Até que eu ganhei.

— Puta que pariu! — As palavras foram um berro eufórico, enquanto um sorriso imenso se repuxava no meu rosto.

Quando olhei para o lado, Jader estava ligeiramente ofegante, uma das mãos apoiadas no arcade e os cachos em um amontoado revolto de fios crepitando no ar. Ele comprimiu os lábios por um instante, antes de dizer:

— Não valeu. Eu me distraí.

Ergui a sobrancelha, encarando-o com descrença.

— Se distraiu, perdeu. Valeu, sim!

Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo AquiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora