10 - O segredo de Orgeila Bertonk

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Depois de uma hora chegaram num bairro suburbano de Voln. Ainda estava escuro, exceto poucas luzes da iluminação pública. Ilya entrou sozinho na padaria usando os óculos que detestava. Colocou pães no cesto e levou ao balcão. O atendente enrolou os pães num papel pardo e entregou-os a Ilya.

– Uma garrafa de leite, mas não tenho o casco.

– Duas Firas por tudo. – respondeu o senhor com cara de sono.

Ilya pegou os produtos e saiu de rosto baixo. Encontrou-se com Halle adiante para dividir a refeição. Havia uma pracinha com uma fonte d'água na qual Halle lavou-se para remover as manchas de sangue do rosto e das mãos. Ainda assim, ambos tinham uma aparência bem ruim. Após compartilhar o desjejum, separaram-se novamente. Andando juntos tinham mais chances de chamar atenção. Seguiam pelas ruas largas e planas do subúrbio. Halle era seguido por Ilya a uma distância aproximada de dois quarteirões.

Havia muitas casas com extensos jardins e quintais. Um pouco de movimento começava a ocorrer. Pessoas saindo de casa para caminhar até as estações do manotrilho suburbano. Muitas pessoas trabalhavam na região central de Voln e ambos temiam serem reconhecidos por alguém que tenha visto as fotos deles no jornal. Mesmo sob este risco, Halle tomou direções por duas vezes. Finalmente, chegaram ao endereço registrado por Exull para a entrega da correspondência.

Era uma casa pequena de dois pavimentos com um portal cinza de quatro portas sob um arco. A frente da casa era cercada por uma mureta branca e havia dois portões baixos de madeira envernizada. O jardim era muito bem cuidado, repleto de samambaias (plantas incomuns em Durkheim) e havia uma grande árvore que cobria o lado esquerdo da casa. A campainha era um sino que Halle tocou enquanto observava Ilya aproximando-se. Halle gesticulou para ele vir logo.

Uma senhora idosa abriu a porta frontal e fez careta, apertando os olhos para melhor enxergar. Era baixa, magra e um pouco corcunda. Usava um manto negro e xale azul escuro. Os cabelos, totalmente brancos eram cortados curtos, mas formavam um volume acima da testa, num grande topete de cabelos encaracolados. Os olhos violetas indicavam ascendência Karis.

Halle ergueu o envelope e disse – Bom dia. Temos uma correspondência para o Sr. Firnamul-Uxir, mas gostaríamos de entregá-la pessoalmente.

– Bom dia, rapazes. Temo que o Sr. 'Xir ainda esteja dormindo. Podem deixar a carta comigo.

– Desculpe, mas recebemos instruções para entregar pessoalmente, não poderíamos esperar por ele?

A senhora pensou por uns instantes. – Bem, não sei... O Sr. 'Xir não gosta nada de visitas. Ainda mais sem algum tipo de aviso...

– Entendo... Como a senhora se chama?

– Arildi.

– Por favor, senhora Arildi, é um assunto importante. Se pudéssemos entrar para esperar...

Ilya percebeu que ela não estava inclinada a aceitar.

– Bem, jovens, acho melhor voltarem depois.

Ilya pediu – Mas viemos de tão longe. Talvez possamos ajudar com algo. Parece que o jardim e o quintal são bem grandes. Poderíamos realizar alguma tarefa enquanto esperamos. Ou, então, aguardar aqui mesmo na porta.

– Bem, – a velha suspirou e cedeu – vamos, entrem. Há algum entulho no quintal que precisa ser carregado. Não vou dispensar uma ajuda assim.

– Obrigado. – agradeceu Ilya.

– Como se chama?

– Meu nome é Ily...

– Ele é Ilyodorv e meu nome é Sergey. – intrometeu-se Halle escondendo os nomes verdadeiros.

Os Óculos Indesejados de Ilya GregorvichWhere stories live. Discover now