30 - Rapto esclarecido

52 17 0
                                    

O frio fez o braço de Halle voltar a doer. Fez uma careta ao se aproximar do prédio do curso de cinema, mas parou antes para observar. Tomou coragem e penetrou no prédio pela entrada lateral, próxima à garagem na qual houve o confronto com o Pgormax. O estrago ainda não havia sido reparado. Dava passos rápidos e seguia de cabeça baixa, ocultando o rosto com o gorro. Subiu as escadas e foi direto para a oficina de ótica à procura de Kólia Semiónytch.

O técnico trabalhava em alguma peça ao lado do capacitor, que zumbia alto em plena utilização.

– Kólia, – chamou Halle – sou eu. Trouxe os óculos, mas estava sob disfarce.

– Oh, então era você, Bremmen? Por um instante achei tê-lo reconhecido... – ele sorriu mostrando os dentes amarelos.

– Foi melhor que não... Por favor, conte-me o que houve.

– Ah, sim. – o baixinho coçou a cabeleira grisalha despenteada. – Primeiro, foi o tal agente que veio aqui, no mesmo dia. Quis saber com quem vocês teriam conversado. Eu o despistei. O problema todo ocorreu depois quando a moça que vocês mandaram, veio buscar os óculos e o filme. Ela pegou o material comigo, mas então...

– O que houve?

– Era final de tarde. Estava escuro e a maioria dos estudantes já havia saído. Eu juntava minhas coisas para ir embora... Ouvi uma discussão. Daqui do alto pude ver que a moça, era linda aliás... Ela foi abordada por três sujeitos na saída do prédio. Uns tipos mal encarados. Quando ela começou a se exaltar, reparei que um deles ameaçou-a com uma pistola. Ao ver a arma ela calou-se. Depois, saíram juntos. Lamento, mas não pude ajudar.

– Mas que droga! Viu mais algum detalhe? Como estavam vestidos?

– Sim, claro. Um deles estava todo de preto com um chapéu de abas largas. Os outros dois não tinham características distintivas. Eram adultos, não pareciam jovens e tão pouco estudantes. Gente que não é daqui, nem parecia com os tipos do governo.

– Certo... – Halle tirou o jornal da bolsa à tiracolo e mostrou a foto de Masha.

Kólia confirmou – É ela.

– Kólia, preciso de um favor seu. Fique com o jornal e leia-o depois. Estão me acusando de raptar esta garota. Como você mesmo viu, não fui eu.

– Certamente.

– Quero que procure a polícia, ou melhor, a AID. Peça para falar com o agente Oleksei. Diga que reconheceu a foto da moça no jornal e conte-lhe o que viu. Isto vai ajudar a limpar minha barra.

– Claro!

– Maldição! – resmungou Halle – Perdemos as provas. Agora nada podemos fazer contra os desgraçados.

– Um minuto, Bremmen. Eu sei que não devia, mas achei tão incríveis aquelas imagens, especialmente a do dragão que aparece no final, que tirei uma cópia adicional para mim.

– Sério?

– Sim, deixe-me ver... – Kólia fuçou numa pilha de coisas bagunçadas dentro do armário. – Sim, aqui está!

Halle ficou tão feliz que abraçou o técnico – Salvou o dia!

Ele ficou sem jeito, mas, de algum modo, contente por poder ajudar.

– Ah, sim, me esquecia...

– Do quê?

– Disto. – Kólia mostrou um envelope – No dia seguinte, um sujeito veio e disse para eu entregar esse envelope ao dono dos óculos.

Halle abriu o envelope e encontrou um bilhete. Passou os olhos no texto e sua expressão se fechou, pesada.

– Você tem um telefone aqui que eu possa usar?

– Sim, venha comigo.

Os Óculos Indesejados de Ilya GregorvichWhere stories live. Discover now