Epílogo

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Era primavera. O campus da universidade de Voln estava repleto de flores por todos os lados. Rosas, cravos, hortênsias e crisântemos nos jardins, árvores carregadas de flores rosadas, amarelas, vermelhas e roxas. O sol era gentil e os gramados brilhavam, viçosos e cheios de vida.

Era início de um novo semestre letivo e Ilya mal podia acreditar que caminhava pelo campus de que tanto gostava sem ser perseguido. Livre de todas as acusações e embaraços, o jovem caminhava tranquilo em direção ao prédio de Engenharia Taumatônica.

Tinha combinado almoço com os amigos. Em outros tempos, teria comido próximo do departamento de matemática para não perder tempo e voltar logo ao trabalho. Mas não agora. Após tudo aquilo, havia finalmente provado o teorema que o professor Svenka achava impossível de provar. Svenka, apesar de contrariado, estava feliz e orgulhoso de seu aluno. Ilya havia completado a graduação, uma carreira brilhante estava diante de si.

O tio de Ilya, por outro lado, acabou sendo expulso depois que veio à tona o escândalo de seus experimentos secretos com seres humanos. Considerado criminoso, foi extraditado para uma pena de trabalhos forçados nas colônias de Durkheim, no extremo sul.

Houve também um grande escândalo com a revelação do filme de Bertonk e a usina de Vetrocrav foi fechada. As provas reunidas por Ilya e Halle, além de livrá-los das acusações, ajudaram a livrá-los dos assaltos cometidos como consequência de terem sido apontados como criminosos. O padrasto de Marya, junto com outros funcionários corruptos, foi condenado. Muitos também foram extraditados para cumprir pena nas colônias. Ilya contou com a ajuda da dragonesa Lavamiir e outros importantes pesquisadores da universidade para seu tratamento. Houve resultados positivos. Deram-lhe a perspectiva de viver por mais tempo, três, cinco anos, ou até mais, não sabiam ao certo.

O restaurante da engenharia era pequeno e mais caro que o restaurante estudantil. Assim, ficava vazio e era frequentado, principalmente, por professores e funcionários. Quando Ilya chegou, avistou Halle e Masha juntos. Ele finalmente tinha a garota de seus sonhos. Ilya não conseguiu perdoar totalmente Halle pela surra que recebeu durante confronto com o Vorn-Nasca, mas conviviam de modo razoável...

Ilya chegou e perguntou – Já pediram?

– Claro, frango. O de sempre para você: frango. Há há há.

– Halle, não se cansa dessas piadinhas infames?

– Sabe que não, garoto.

Ilya sorriu recordando-se de outra piada idiota de Halle. Há poucos dias lhe dissera – Veja bem garoto, você cresceu mesmo. Lutou pela garota que queria, derrotou o Vorn-Nasca e até mesmo a mim. De hoje em diante, não vou chamá-lo mais de frangote. Agora você foi promovido para frango!

Ilya olhou em volta, seu coração palpitando. Quando viu Marya, seu estômago se contorceu. Vinha com um grupo grande de alunos que saia do auditório no térreo.

– Vai lá, bonitinho. – atiçou Masha – Convida a caloura para almoçar conosco.

Ilya correu um pouco para interceptar a moça.

– Ei, Marya!

– Ilya! – ela sorriu.

– Como está sendo o primeiro dia?

– Aula inaugural, sabe como é... Ah, estava querendo mesmo me encontrar com você.

– Estava?

Ela tirou um livro da mochila e entregou para ele.

Ilya olhou para ele sem acreditar. O livro tinha uma capa de couro tingido de azul, mas desgastado, dava para ler o título, um pouco apagado: Caminho de Mahld-bek.

Os Óculos Indesejados de Ilya GregorvichWhere stories live. Discover now