20 - De volta ao Campus

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A primeira coisa que pensou foi em conseguir informações pelo serviço telefônico. No centro histórico, achou um telefone público, mas a resposta foi frustrante.

– Sinto muito, senhor, não consta telefone para Masha Flammoc. – Ilya desligou irritado.

Então, se lembrou da agenda que Halle havia esquecido no alojamento. Soube que seria o único jeito. Ainda tinha as chaves, mas sabia que a polícia poderia estar esperando, ou algo pior. Com sorte, encontraria a agenda e nela o telefone de Masha.


***

Caminhava pelo corredor do prédio de alojamentos com os nervos em alerta. Temia cruzar com algum conhecido, mas confortava-se com a ideia de que seria muito difícil ter alguém circulando ali numa gélida manhã de Nona. A grande maioria dos estudantes estaria fora, passeando, visitando parentes ou, ainda, estudando nos alojamentos, assim como ele próprio costumava fazer.

Deu tudo certo, chegou até a porta do seu quarto, introduziu a chave e girou-a. Sentiu uma forte nostalgia e um desejo de que aquilo tudo que vivia fosse apenas um sonho, uma mentira. Poderia então sentar-se à sua escrivaninha e debruçar-se sobre os teoremas. Todos seus problemas eram tão simples. Somente equações, provas... E, agora, estava tudo de pernas para o ar.

Fuçou o armário de Halle. Sabia, mais ou menos, onde ele costumava guardar a agenda. Achou suas coisas: roupas, livros, mas nem tudo estava lá. A polícia deve ter tido acesso ao alojamento e removido itens importantes para a investigação, entre estes, o item de que mais precisava: a agenda de Halle. Aquela dor de cabeça chata martelava no lado direito da cabeça.

– Droga! Droga! Droga! – Ilya ficou furioso. Perdeu o controle e atirou os livros para o chão. Virou a escrivaninha e depois a cama de Halle. O quarto ficou um caos. Uma das faculdades de Ilya, sua percepção aguçada e mania de fazer cálculos trouxeram-no de volta a si. Ao lado da cama de Halle, havia um tijolo do rodapé mais encardido que os demais. Era uma diferença sutil, mas aquilo chamou sua atenção. A parede, logo acima, também parecia um pouco mais suja. "Vai ver ele colocava o braço ali, entre a cama e a parede, e gostava de cutucar o rodapé...", pensou, mas aproximou-se e tocou a pedra. Esta se moveu revelando um fundo falso. "Lógico!", pensou, "Ele tinha que esconder suas coisas ilegais em algum canto!". Do buraco, Ilya retirou uma série de objetos. Pergaminhos, objetos estranhos e, entre estes, uma caderneta.

Em seguida, lembrou-se de pegar seu último frasco remédios na gaveta da escrivaninha tombada. Estava quase vazio. Então escutou passos no corredor. "Droga, estraguei tudo!"

Com isso, não pensou duas vezes, colocou tudo na mochila, inclusive o livro texto de matemática. Abriu a porta e saiu sem olhar quem vinha caminhando na direção oposta.

– Ei, você! – chamou uma voz severa.

Ilya olhou para trás e reconheceu o guarda que ficava na portaria do prédio. Era um senhor com sobrepeso e barba hirsuta. Ilya correu para as escadas.

– Ei, rapaz! – chamou-o o guarda, dando início à perseguição.

Não foi difícil, apesar de não ser atleta, deixar o guarda para trás. Usou os atalhos que conhecia e saltou para fora do campus subindo em uma árvore cujos galhos passavam por cima do muro.

Os Óculos Indesejados de Ilya GregorvichWhere stories live. Discover now