Capítulo 49 (Parte II) - Estamos nos curtindo.

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Eu segui durante todo o caminho em silêncio, Emma também não tentou puxar assunto comigo. Nós estávamos indo para o ponto de ônibus, mas era um pouco distante da casa de Emma. – O que eu falo? – Pensei. Por mais que eu pensasse em milhões de coisas para dizer para minha melhor amiga, algo maior me bloqueava, o fato dela não ter confiado em mim. Eu sempre contei tudo para ela, durante anos confiamos tudo um ao outro. – Deixar de contar para o melhor amigo que você se tornou bissexual? Por que ela não me contou? – Pensei. Quando chegamos no ponto, nos deparamos com um local mais vazio que um deserto. Afinal quem pegaria um ônibus tão tarde da noite, não é? Nos sentamos no banco do ponto de ônibus, ainda estávamos mantendo o silêncio entre nós e aquilo

Fiquei pensativo durante alguns minutos, eu comecei a recordar do momento em que eu realmente descobri que eu gostava de garotos. Eu não contei de imediato para ninguém, nem para minha melhor amiga, Emma. Quando você se descobre, sua primeira reação é sentir medo e não se trata sobre contar para aquele que você mais confia, se trata de você se aceitar! Depois que você se aceita, se torna mais fácil de expor para o mundo o que você realmente é, só assim você estará maduro o suficiente para lidar com a opinião dos outros e inclusive daquele que você mais confia. Quando você se aceita, você para de sentir medo e começa a ignorar todas aquelas críticas negativas. Você simplesmente para de se importar com o inútil e passa a reparar apenas nas coisas positivas.

Por sorte, eu sempre tive uma amiga ao meu lado. Só eu sou capaz de entender o que deve ter passado na cabeça da minha melhor amiga durante todo esse tempo. Não é fácil lidar com tudo isso sozinha, ainda mais quando você se descobre. – Eu te amo, Emma. – Falei enquanto abraçava Emma fortemente. Eu pude sentir seu corpo se desmontando em cima do meu, como se um peso saísse de suas costas. Ela ficou apoiada em mim durante um tempo, totalmente imóvel, ficamos abraçados por ali em um local totalmente vazio em plena madrugada. Seria o cenário perfeito para um casal apaixonado pudesse se pegar loucamente, foi aí que me lembrei de Noah. Ele é o garoto mais fofo e complicado que existe, mas eu o amo!

– Vai lá dizer para ele o que você ainda não disse. – Disse Emma sussurrando no meu ouvido.

– Como é? – Perguntei.

– O Noah. – Disse ela desmanchando o abraço. – Você precisa falar com ele, não é? Vocês se amam muito, não é?

– Sim, eu realmente preciso falar com ele e sim, nós nos amamos. Bom... – Falei dando uma gargalhada. – Tenho que responder por mim apenas, eu o amo e isso posso responder.

– Ah qual é? – Disse Emma jogando os ombros. – Eu sei que ele te ama. Lembra como ele ficava todo incomodado em ver você e o Lucas juntos? As declarações que ele fazia, coitado, ele não conseguia se segurar. Até bêbado ele se lembrava de você e fazia altas declarações.

– Mas e sobre você e a Julie? – Perguntei

– Bom, nós estamos indo... É tão estranho, sabe? Ela era uma amiga e agora nós nos beijamos, mas não estamos namorando. Estamos nos curtindo. – Falou Emma.

– Nos curtindo? – Perguntei.

– Sim.... Ah você sabe, não é? Tipo, só estamos nos pegando de vez em quando. Ainda saímos para festas e ficamos com outros garotos, então, sei lá.... Nós temos uma amizade colorida. – Disse Emma.

Não deu tempo nem de questionar mais detalhes sobre Julie e Emma, assim que eu ia abrir a boca um carro parou na nossa frente. O vidro da frente do carro foi se abaixando lentamente, poderíamos estar morrendo de medo naquele instante, mas era um taxi, então não foi tão apavorante. O vidro se abaixou por completo e o taxista se aproximou da janela. – Estão esperando o ônibus, garotos? – Perguntou ele. Balançamos a cabeça respondendo que sim.

– Vocês iriam passar a noite toda esperando esse ônibus então, jovens! – Disse ele.

– Por que, moço? – Perguntou Emma.

– Tenho uma péssima notícia para vocês, não tem mais ônibus esse horário, não nesse bairro. Vocês vão ter que pegar um taxi e olha só, por sorte eu sou um taxista. – Disse o homem.

– E quanto você cobra, senhor? – Perguntei.

– Bom, meu horário já acabou. Eu estou indo para o bairro Primavera. Eu tenho um encontro com uma senhora que mora lá, se é que vocês me entendem? E vocês? – Perguntou o homem.

– Entendi. – Falei dando uma gargalhada.

– Nós estamos indo para lá, também. – Disse Emma.

– Então entrem aí, eu deixo vocês lá. Totalmente de graça! Aproveitem que eu estou em um bom dia, ou melhor, uma boa noite. – Falou o homem.

– Sério? – Perguntei.

– Sério, só entrem aí! – Disse ele. 

Nós, Nós mesmos e o Tempo [1 e 2]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora