Capítulo 51 - Se você não gosta é só não olhar.

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Fui descendo as escadas em passos lentos para minha mãe não acordar, ou melhor, para ela não ver que eu já estava acordado. Abri a porta e fui caminhando até o prédio abandonado que cheguei a ir uma vez com o Noah. Fui subindo as escadas sem fim daquele prédio e quando chego no topo avisto o amor da minha vida sentado observando o céu, eu me aproximei e me sentei ao seu lado. Ele logo retribuiu com um sorriso inocente e colocou seu braço em volta do meu pescoço e puxando minha cabeça até o seu ombro. Por ali ficamos durante um tempo, observando o céu.

Noah olhava fixamente para algo no céu, eu tentei levar meu olhar em direção ao que ele estava olhando, mas eu via apenas nuvens. – O que será que está passando na cabeça desse menino neste momento? – Pensei. Noah continuou encarando aquela nuvem, então não me contive de curiosidade.

– O que você está vendo? – Perguntei sussurrando em seu ouvido.

Naquele instante vi o corpo de Noah se arrepiar por inteiro. – Será que eu descobri o ponto fraco de alguém? – Pensei. Noah me encarou com um olhar doce e com um sorriso de lado.

– Aquela nuvem. – Disse Noah apontando para o céu. – Ela não te lembra alguém?

Eu levei meus olhos em direção ao dedo dele e fiquei olhando para todas as nuvens naquela direção, mas nenhuma me lembrava ninguém.

– Hmm... Nenhuma me lembrou ninguém. – Respondi.

Ele levou seus olhos de volta para aquela nuvem e me disse: – Ela parece o rosto do meu irmão, não parece? – Disse Noah. Eu fiquei paralisado naquele momento. – Que climão. – Pensei.

Naquele momento eu comecei a lembrar da morte do meu avô, não demorou muito para lágrimas escorrerem dos meus olhos. Noah pegou sua mão e a trouxe em direção ao meu rosto para limpar minhas lágrimas.

– O que aconteceu? – Perguntou ele com um olhar meigo.

– Será que eu conto? – Pensei. – Meu pai, depois de anos ele apareceu. – Falei.

– E você está chorando por isso? – Perguntou Noah.

– Sim! – Falei cruzando meus braços.

– Não faz essa carinha! – Disse Noah aportando minha bochecha.

– Eu o odeio, ele jamais será meu pai. Meu pai é o ... – Falei enfurecido

– Seu avô? – Disse Noah me interrompendo.

– Sim, isso aí! – Falei.

– Hm... – Murmurou Noah.

– Hm... O que? – Perguntei confuso.

– Você não deveria sentir tanta raiva do seu pai, não dessa forma. Por que não tenta pelo menos escuta-lo e tentar descobrir os motivos pelo qual ele se foi. – Disse Noah.

– E tem motivo para abandonar a mulher grávida do seu filho? Isso não tem desculpa! – Falei.

– Todos mundos têm seus motivos, bons ou ruins, todos temos os nossos motivos. – Disse Noah.

– Tá, eu vou vou tentar pelo menos ouvi-lo. – Falei.

– Se você quiser eu vou com você! – Disse Noah.

– Ir comigo? - Perguntei franzindo a testa.

– Falar com o seu pai. Se você quiser, eu vou com você. Estarei ao seu lado, se você quiser é claro. – Disse Noah com um sorriso tímido.

"Falar com meu pai! Nunca pensei em que algum momento eu falaria com ele." – Pensei.

Horas depois, Noah e eu decidimos voltar para casa. Fomos caminhando de mãos dadas, durante o nosso percurso, comecei a reparar que algumas pessoas olhavam de uma forma estranha para gente. – Por que será que estão olhando desse jeito para nós? – Pensei. Noah estava de cabeça baixa, com certeza ele não havia reparado ou então poderia ser coisa da minha cabeça. Bom, poderia... Minutos depois eu tive a confirmação de que não era cosa da minha cabeça. Estávamos chegando próximo a um ponto de ônibus e sentamos um pouco por lá para descansar um pouco. Não demorou muito e se aproximou uma mulher alta, loira e dos olhos azuis. Ela estava bem vestida, ela aparentava ter uns 45 anos mais ou menos e parecia ser de alta classe social. – Mas se ela fosse rica, por qual motivo ela pegaria um ônibus? – Pensei. Ela parou próximo a gente e ficou nos encarando com uma cara de quem iria vomitar a qualquer momento.

O Celular de Noah vibrou e ele foi checar. – Onde você está? Preciso te encontrar, você tem médico hoje ou você se esqueceu? – Dizia a mensagem do pai de Noah.

– Droga! – Disse Noah.

– O que houve? – Perguntei.

– Eu tenho que ir no médico hoje e eu havia me esquecido. – Disse Noah.

– E agora? – Perguntei.

– Meu pai vai vir me buscar, logo ele chega aqui. – Respondeu Noah.

– Ah, o seu pai vai vir... Melhor eu entrar no primeiro ônibus que aparecer. –Falei.

– Deixa de ser bobo! Meu pai vai ter que aceitar uma hora ou outra que eu namoro você. – Disse Noah.

Minutos depois, um ônibus encostou no ponto e quase todos entraram nele, exceto, Noah, eu e a mulher que continuava nos encarar estranhamente. Não demorou muito para o pai de Noah chegar. Ele parou o carro próximo ao ponto de ônibus e depois veio andando até nossa direção, antes de nos cumprimentar, ele atendeu o seu telefone que estava tocando. O pai de Noah foi se afastando aos poucos, parecia estar falando com alguém sobre negócios da empresa. Assim que ele desligou o telefone, a mulher que estava parada nos encarando se aproximou do pai de Noah. – Olha que absurdo? Como ele tem coragem de sair na rua? – Disse ela apontando o dedo em nossa direção. – Como é? – Perguntou o pai de Noah franzindo a testa.

– Eles ali. – Disse ela voltando a apontar o dedo para nossa direção. – Dois homens andando de mãos dadas na rua. Que horror! A que ponto chegamos. – Completou ela.

O pai de Noah olhou em nossa direção com uma voz furiosa. – Entrem no carro meninos! – Gritou ele.

– Me desculpe, minha senhora, mas se você não gosta é só não olhar. – Disse o pai de Noah.

– Mas como não olhar para isso? – Perguntou a mulher com um tom irônico.

– É simples, quando você tem mais o que fazer da vida, você automaticamente para de cuidar da vida dos outros. Tenta isso e depois me conta se funcionou. – Disse o pai de Noah entrando no carro.

Mesmo estando dentro do carro, nós pudemos escutar o que o pai de Noah falou para aquela mulher. Noah ficou com um sorriso encantador em seu rosto. "Ele não esperava ver seu pai o defendendo."– Pensei.

Nós, Nós mesmos e o Tempo [1 e 2]Where stories live. Discover now