VINTE E TRÊS

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HELENA
Durante o fim de semana Léo não estava muito bem e, após pedir ajuda de Vic, minha amiga constatou que meu pequeno estava apenas com uma infecção de estômago por conta da festinha da sexta-feira.
Mimei ele durante os dois dias que me foi permitido e desistindo de pedir folga a Victor Hugo quando ele informou que passaria o dia fora ainda no dia anterior por mensagem, resolvi levar Léo comigo para a mansão para cuidar nos meus afazeres e cuidar dele. Luís só trabalharia depois do almoço e Paloma estava de folga por conta de algo da faculdade. Seríamos apenas nós dois.
Seria! Pois antes mesmo das dez da manhã escuto Victor Hugo entrando em casa ruidosamente e irritado junto com alguém. Uma gritaria se faz presente, nunca o vi assim antes e quando finalmente é cessada, escondo Léo rapidamente na dispensa.
— Bom dia. — falo logo que ele entra na cozinha.
— Helena, pode pegar o pacote que eu deixei no carro, por favor? — pede me entregando a caixa.
— Hum... agora?
— De preferência.
— Mas...
— Você pode, por favor, fazer algo que eu peço, Helena? — apesar de estar irritado, vejo que ele está tentando se controlar. — Se minha visita indesejada ainda estiver lá fora, não quero cruzar com ela. Então, por favor, vai até o carro buscar o pacote.
— Tá bom, mas você tem que ficar quietinho no mesmo lugar até eu voltar, tá? — meu filho acena pela fresta da porta e Victor Hugo parece não entender.
— É algum fetiche seu me irritar, Helena?
— Eu já vou! — resmungo e saio correndo até o veículo.
— Ei, você aí!!! — escuto Victor Hugo gritar e deixo a caixa cair no chão antes de correr de volta para a cozinha. — Merda!!!
— O que houve?
— Tinha uma criança aqui. — grita. — E ela comeu meus biscoitos!
— O que? — me faço de desentendida.
— Uma criança, Helena. Um garoto. O encontrei na dispensa comendo meus biscoitos, mas ele saiu correndo.
— Você tem certeza?
— Era meu último pacote, Helena, então, sim, eu tenho certeza. E vou encontrar esse pestinha! — tenta sair para o jardim, mas o impeço.
— Foi só um pacote de biscoitos, Victor Hugo!
— Mas ele estava dentro da minha casa e roubou meus biscoitos.
— Você tem certeza que viu alguém por aqui? Estou trabalhando aqui há meses e nunca nenhuma criança invadiu a casa...
— Tenho certeza, Helena. Ele devia ter uns oito ou sete anos.
— Pode ter sido o ajudante do Luís...
— Ele tem menos da metade da minha altura, Helena!
— Isso é constrangedor, mas acho que você está sendo grosseiro. O ajudante é anão, Victor Hugo.
— O que? Helena, eu sei o que é uma criança... E mesmo que não tenha sido, roubou meus biscoitos. Era o último pacote.
— Eu passo no mercado. Se não foi o ajudante do Luís, com certeza deve ter sido o... o... — meu Deus, o que eu tô fazendo?
— O...?
— Você sabe!
— Não, não sei, me conta...
— Ora, Victor Hugo, deve ter sido o filho da vizinha. Sabe como são crianças...
— Mas o filho da vizinha é diferente...
— Você só tem um vizinho?
—  Não, mas...
— Victor Hugo, é uma criança.
— Vou ao mercado e depois passar na casa da vizinha... — resmunga.
— Vai mesmo arrumar confusão por causa disso?
— Acho que não. — ele parece mais curioso que irritado. — Quer ir comigo, Helena?
— Prefiro ficar cuidando das coisas que tenho para fazer.
— E a caixa?
— Você me assustou com o grito, deixei na sala. — explico o acompanhando até o cômodo.
— É um presente para você usar no nosso encontro.
— Mas ainda nem decidimos uma data...
— Não importa. Só o que me importa é que você vista para que eu possa tirar. — diz me dando um rápido selinho e saindo em seguida.
Deixo a caixa em cima do balcão da cozinha sem sequer abrir e rapidamente saio a procura do meu filho. Por pouco Victor Hugo não só descobriu que ele é meu filho como também que eu tenho mentido, na verdade, omitido.
Não demoro a encontrar Léo atrás da nossa casinha comendo o pacote roubado de biscoitos assustado. Logo que me ver, corre pro meu colo com o rostinho sujo e pedindo desculpas.
Mando mensagem para Vic contando o que aconteceu, omitindo a parte do presente do irmão dela. Não quero contar ainda para ela o que está acontecendo entre nós dois até ter certeza do que realmente é isso.
Após deixar Léo assistindo um desenho na televisão, volto na mansão apenas para buscar a caixa para não correr o risco de que Victor Hugo o decida levar para mim.
Léo dorme rapidamente. Ainda está cansadinho por conta do estresse e da infecção que teve no fim de semana. Amanhã, terça-feira, ele volta às aulas, mas agora ele precisa de carinho de mãe e é o que vou dar.
Fecho as janelas e tranco as portas antes de mandar uma mensagem para Victor Hugo dizendo que precisei sair e que não sei que horas voltarei e que, se necessário, pode descontar o dia do meu salário. Após avisar Vic para que não fique preocupada, desligo o aparelho.
~*~
Depois da van buscar Léo pela manhã, decido finalmente ligar o aparelho e a chuva de mensagens recebidas, fora as ligações da parte de Victor Hugo conseguem travar o celular.
Tão logo entro na mansão, Victor Hugo vem até mim preocupado:
— Tá tudo bem, Helena? Você sumiu e eu não sabia onde te encontrar. — reclama. — Por que minha irmã sabia onde você estava e eu não?
— Eu... precisei resolver umas coisas e voltei tarde.
— Está tudo bem?
— Agora sim, mas... — um nó na minha garganta me impede de continuar falando.
— O que houve, Helena? — ele me abraça enquanto inevitavelmente minhas lágrimas descem.
— Me desculpe.
— Não tem que se desculpar, Helena. Só me diz o que está acontecendo...
— Eu... — por um segundo decido finalmente contar a ele a verdade sobre Léo. Estou cansada de esconder o meu filho, mas eu preciso do emprego. Tenho certeza de que Victor Hugo não vai me perdoar por minha mentira. — Eu...
— Você não sabe o que aconteceu no fim de semana, Helena. — Paloma entra na cozinha e imediatamente Victor Hugo e eu nos afastamos. — Me desculpa, não sabia que o senhor estava aqui.
— Tudo bem, Paloma, ele já está de saída — limpo meu rosto.
— Helena...
— Não é mesmo? — insisto e ele sai parecendo preocupado me deixando apenas com Paloma.
— Está tudo bem, Helena? Ele fez ou disse algo para você?
— Não, ele não fez nem disse nada. Sou só eu de TPM, Paloma. — digo tentando colocar um sorriso no rosto enquanto ela me olha atenciosamente.
Paloma é uma garota legal. Com vinte anos e sendo a pessoa mais animada que já conheci, depois da Vic, claro, é uma ótima companhia.
— Se precisar conversar, eu estou aqui.
— Eu sei, obrigada. — dou um abraço nela. — Agora me conta, o que aconteceu no fim de semana?

Meu Viúvo - (COMPLETO)Where stories live. Discover now