TRINTA E SEIS

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Me contem, para o que estão mais ansiosas?

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            Com a grama bem verde bem aparada e cercados por pessoas alheias a própria vida, finalmente descobri nosso destino: o parque Ibirapuera.

Mesmo após estar morando em São Paulo há tantos anos, nunca tinha vindo aqui. Mauro nunca foi fã de natureza, sempre disse que era um leão da grande selva de concreto que é a cidade e sempre brinquei que ele era a cópia tupiniquim de Alex, o leão do filme Madagascar.

Léo parecia muito feliz e animado e mesmo virando as costas todas as vezes que eu e Victor Hugo nos beijávamos, tive a certeza de que estava fazendo a coisa certa como mãe. O brilho nos seus olhos era inegável. Eu nunca o tinha visto melhor.

Os dois brincaram de bicicleta, de esconde-esconde, pega-pega e quando finalmente cansaram, fizemos um piquenique com as comidas que os dois compraram.

— Vocês não trouxeram nada saudável. Um vegetal? — questiono tirando tudo da cesta e colocando sob o lençol de super herói que veio da minha casa sem dúvidas.

— A professora falou que batata é tu-tur-tubre... eu sei falar — gagueja um pouco antes de conseguir pronunciar: — tubérculo, mamãe.

— E tubérculos, são vegetais. — Hugo complementa roubando a batata frita que paramos para comprar enquanto eu ainda estava vendada.

— Aposto que estão armando um complô contra mim, mas dessa vez eu cederei sem brigar. — Os dois comemoram empolgados. — Podem ter vencido esta batalha, mas não a guerra. — ameaço antes de autorizar Léo a comer.

~*~

— Você é uma mãe incrível, sabia? — Hugo diz enquanto acaricia meu cabelo. Léo está brincando com algumas crianças próximas de nós enquanto estou com a cabeça apoiada nas pernas do meu namorado.

— Às vezes eu sinto que podia ter feito mais se o meu orgulho bobo que eu tanto digo não ter, não me atrapalhasse tanto. — admito ainda vigiando o Léo.

— Ninguém é perfeito.

— Eu sei, mas eu engravidei muito nova e por puro descuido. Não me arrependo de ter tido o Léo, mas eu sei que não seria tão difícil se eu tivesse esperado o...

— Não existe "momento certo", Helena. — garante beijando minha testa e finalmente desvio minha atenção para ele. — O que importa é que Léo está aqui com você. Conosco. — seu sorriso é acolhedor e volto a me sentar ao seu lado e seguro sua mão voltando mais uma vez o olhar ao meu filho.

— Eu sei que eu não digo isso com frequência, mas eu sou muito grata por te ter na nossa vida, Hugo. — sinto seu braço me acolhendo e mais uma vez ele me beija, dessa vez, no topo da cabeça. — O Léo gosta muito de você e eu... bem, acho que nem sou capaz de dizer o quanto.

Sei que Hugo anseia por ouvir essas palavras, assim como eu anseio por dizê-las, mas algo ainda me impede. Me assusta. Não ele, mas esses sentimentos. Não tenho certeza de que já me senti assim algum dia.

— Eu sei, meu amor. Eu sei. — diz após desviar meu olhar para o seu e me beija em seguida.

~*~

Hugo insistiu para que ficássemos o dia inteiro no parque e mesmo que eu tenha tentado fazer-nos voltar para casa imaginando o quão cansado Léo já estava, meu próprio filho me convenceu a permanecer.

Mesmo que eu nunca tivesse vindo ao parque, eu sabia da tão apaixonante dança das águas. Diversas vezes vi na televisão o show das enormes cortinas de água e luzes, mas não estava preparada para ver de perto.

A televisão não tinha sido fiel a tal beleza. Com o vento atípico, a água que subiu por diversos metros, salpicou praticamente todas as pessoas que estavam ali. Com centenas de pessoas assistindo e filmando o show, me agarrei um pouco mais a Victor Hugo.

Léo avidamente devorava um saquinho de doces sentado aos nossos pés. Completamente feliz, como jamais o vi, mas também desinteressado com o um dos shows mais lindos que tive o prazer de presenciar.

— Mamãe, eu quero água. — Léo pede quase ao fim do show. — Acabou. — balança a garrafinha vazia.

— Espera um pouquinho? — peço, mas enjoadinho, ele diz que não. — Léo, por favor...

— Eu vou lá comprar. — Hugo avisa me dando um beijo rápido e começa a passar pela pequena multidão.

— Vou junto! — Léo avisa e corre antes que eu possa segurá-lo.

— Leonardo!

— Eu achei ele, mamãe. — aponta e some no meio da multidão.

Respiro fundo tentando não me preocupar, afinal ele disse que encontrou Hugo e em seguida foi na direção que apontou. Minha atenção passa ao celular que vibra algumas vezes sinalizando mensagens da Vic:

Vic diz: Onde está o meu irmão?

Vic diz: Preciso falar com ele, Helena.

Vic diz: Por que ele não me atende?

Vic diz: Eu vou matar o Hugo.

Rapidamente ligo para minha amiga preocupada. Fiquei acordada boa parte da madrugada disposta a contar a Hugo a verdade. Não tinha coragem de falar diretamente a ela, mas como seu irmão, certamente ele saberia o que fazer.

Você está com o meu irmão? — questiona logo que atende a ligação.

— Sim, estamos no Ibirapuera.

Fala pra ele ligar para o advogado agora mesmo. Aconteceu uma coisa e... bom, ele precisa ligar para o advogado, Helena.

— Tudo bem, eu aviso. Você está bem?

Pede para ele me ligar também. — desliga.

Sem saber o que dizer pela forma como Vic simplesmente desligou o telefone, espero Léo e Hugo retornarem. O show já acabou e as pessoas começam a dispersar e ir em direção as saídas.

— Tá aqui a água. — Escuto a voz de Hugo nas minhas costas.

— A Vic ligou. — aviso quando ele me entrega a água.

— Onde o Léo está?

— Ele foi com você. — o encaro assustada.

— O que? Ele não foi comigo, Helena.

— Ele correu e disse que viu você e... Ai, meu Deus, cadê o meu filho? — começo a procurá-lo e mostrar sua foto para todos que consigo perguntando se o viram. Victor Hugo também faz o mesmo, mas sem sucesso.

— Os seguranças também o estão procurando. — Hugo avisa quando voltamos a nos encontrar. O nó na minha garganta mal me deixa respirar, mas não paro. — Eles estão cogitando procura-lo no lago.

— Ele não caiu na água! — afirmo mais para mim mesma do que para ele. — O Léo foi atrás de você. Não consegui segurá-lo, ele disse que tinha te visto! — grito desesperada.

— Encontramos. — alguém grita e rapidamente corro na direção dele encontrando meu filho cochilando no colo da minha ex sogra.

Sem pensar duas vezes tiro meu filho dos braços de Joelma. Com o mesmo olhar que ela me deu quando descobriu que eu estava grávida, ela me encara agora.

— Te espero na minha casa amanhã bem cedo para conversarmos sobre o Leonardo, Helena. — avisa virando-me as costas.

Tremendo sem conseguir me controlar, penso em correr até ela, puxar o sempre alinhado cabelo dela e esfregar o seu rosto na pista, mas me contento apenas em abraçar o Léo e inalar o cheirinho do seu cabelo enquanto derramo algumas lágrimas e sou abraçada por Victor Hugo.

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O que fariam no lugar da Helena?

Meu Viúvo - (COMPLETO)Where stories live. Discover now