TRINTA E DOIS

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Victor Hugo fez questão de buscar Léo na escola e ainda pediu para que eu o acompanhasse. Enquanto esperávamos o horário de saída, Gardênia, a diretora se aproximou do carro aumentando o decote descaradamente.
— Victor Hugo, a que devo a honra... Ah, oi Helena! — a mão de Hugo que antes estava acariciando meu joelho, não se abala e continua o carinho.
— Olá, Gardênia. — Victor Hugo a cumprimenta e faço o mesmo. — Estamos esperando o Léo.
— Como assim? Ele saiu mais cedo, conforme o seu bilhete, Helena. — afirma.
— Meu o que? Quem levou ele? — minha voz se eleva e Gardênia parece, pela primeira vez desde que a conheci e se afasta da porta do carro, ao mesmo tempo que desço ficando de frente para ela. — Para quem você entregou meu filho? — seguro seus braços assustada.
— Helena... — Victor Hugo me faz soltá-la. — Gardênia, cadê o garoto?
— A avó, senhora Joelma Peres... — diz nervosa. — Ela trouxe um bilhete assinado por você e...
— Você ficou maluca? Entregou meu filho para quem trouxe um bilhete?
— Ele correu para os braços dela quando a viu... — tenta argumentar.
— Eu não acredito que você fez isso, meu Deus! — grito e pegando meu celular com as mãos tremendo, digito o antigo número de telefone que eu me recordava da casa da família de Mauro. — A senhora Joelma Peres, por favor. — peço logo que uma voz atende.
— Quem gostaria?
— Helena Peres — sem perceber solto o ar que estou segurando.
— Ah, sim, a senhora Peres pediu para passar o endereço onde a senhora irá encontra-la. — a voz calma me comunica.
— Eu não... — Gardênia mais uma vez tenta se justificar. — O Léo é um caso especial, eu nunca faço isso, mas como foi aberta a exceção para Victor Hugo, eu pensei que...
— Para o seu bem, eu espero que o meu filho esteja tão bem quanto quando saiu de casa! — aviso apontando o dedo no seu rosto e entro no carro, dessa vez do lado do motorista. Hugo não questiona, apenas entra no banco do passageiro enquanto dou partida no carro.
~*~
Alguns minutos que parecem horas são suficiente para chegar até o clube que Joelma sempre frequentou, mesmo antes de conhece-la. Até mesmo fui algumas vezes com Mauro, mas não demorei a perceber que aquele não era o ambiente onde eu era realmente bem vinda.
O segurança até tenta nos barrar na entrada, mas antes que Hugo tente dar carteirada, eu mesma o faço dizendo que sou nora de Joelma Peres, fazendo-o se desculpar e imediatamente nos conduzir até ela. Encontro-a tomando café enquanto Léo devora uma taça de sorvete em sua frente.
— Sua mãe chegou, rapazinho. — avisa tirando os óculos escuros do rosto e Léo vem correndo na minha direção.
— Mamãe! — pula em meu colo me abraçando. — A vovó me trouxe pra tomar sorvete. Tio, quer sorvete? — pergunta saindo do meu colo para o de Victor Hugo que confirma rapidamente e é puxado por Léo para a mesa, assim como eu. — Vovó, esse é o tio Victor Hugo.
— Boa tarde, senhora Peres. — a cumprimenta e nem por um minuto a arrogância de sempre a abandona.
— Helena, querida, quanto tempo. — se levanta com um sorriso tirando os óculos, beijando o ar ao lado das minas bochechas. — Estou tentando encontra-los há um tempo. Você soube se esconder bem.
— Acho que já podemos ir. — Hugo tenta me ajudar.
— Posso terminar o meu sorvete? — Léo pede para mim, mas Joelma interfere.
— Lógico que pode! Senhor Mendes, poderia fazer companhia ao Leonardo enquanto minha querida nora e eu conversamos em particular? — sua educação é tamanha que qualquer outra pessoa que não a conhecesse, não imaginaria a cobra que ela realmente é.
Após eu confirmar com a cabeça, Victor Hugo voltasse a Léo enquanto Joelma começa a andar esperando que eu a acompanhe e eu o faço.
— Quem te deu o direito de tirar meu filho da aula?
— Você se escondeu bem, Helena. — diz cumprimentando a todos com um sorriso. — Deveria saber que, se eu quero algo, eu consigo. Te encontrar foi fácil.
— Eu não estava me escondendo.
— Pareceu. Não vejo o garoto há anos. — continuamos a andar. Joelma com sua habitual altivez, usando roupas caras, salto alto e cabelos escuros perfeitamente escovados, assim como a maquiagem discreta que passaria facilmente despercebida de certa distância. Nem mesmo seus olhos claros a entregavam, mas eu sei quem ela é.
— Se queria vê-lo, deveria ter me procurado, não falsificado minha assinatura e tirá-lo da escola sem eu saber. — para em sua frente irritada e sua expressão continua a mesma, exceto pelo pequeno sorriso que brota no seu olhar.
— Assim você me ofende. Não falsifiquei nada. É um bilhete antigo que encontrei e decidi que estava na hora de ver o meu neto.
— Não me interessa, Joelma. Mas nunca, ouça bem, nunca mais ouse entrar em contato com o meu filho sem a minha permissão!
— Você não pode me proibir de vê-lo. — a conheço bem demais para cair nos seus joguinhos.
— Não me desafie. Você não sabe do que eu sou capaz depois de tudo o que eu passei.
— Helena, entenda. Mauro era meu único filho. — por um momento a vejo demonstrar um sentimento verdadeiro. — Eu o amava e não soube lidar da maneira certa com a morte dele.
— Você fez com que todos acreditassem que Léo não era filho dele para que não tivéssemos direito a nada.
— Por favor, entenda. — seus olhos ficam marejados. — Eu o amava. Sei que não foi certo o que eu fiz...
— O Léo nunca passou fome, porque eu não deixei. Quando eu pedi ajuda, você me virou as costas e disse para eu me virar sozinha. O que você realmente quer agora, Joelma?
— Helena, eu sei que não sou a melhor pessoa do mundo. Deus sabe disso. — aos poucos sua máscara cai e ela demonstra seus verdadeiros sentimentos. — Eu sonhei com o Mauro há alguns dias e ele perguntava sobre o Leonardo e eu não sabia responder.
— Eu...
— Por favor, me deixe continuar. — pede e aceno positivamente. — Logo que acordei, comecei a tentar encontrar vocês. Me arrependo de tudo, Helena. Mauro jamais me perdoaria sabendo de tudo o que eu fiz, mas eu sei que você pode encontrar uma forma de me perdoar e me deixar fazer parte da vida de vocês.
— Joelma...
— Esse era o Mauro quando tinha a idade do Leonardo. — me entrega uma foto antiga de uma criança parecida com Léo. — Mesmo que eu já não soubesse que ele é filho do meu menino, Helena, teria a prova quando o vi. Ele se lembrou de mim quando me viu na escola. Por favor, não tire isso de mim.
— Eu preciso pensar.
— Por quanto tempo?
— Você teve quatro anos, Joelma. Não tem direito de me fazer essa pergunta.
— Pode ao menos anotar o número do seu celular para mim? E, talvez, o endereço de vocês... — me entrega o próprio aparelho e faço o que pediu. — Obrigada, Helena. Vou esperar ansiosamente pela sua resposta.
— Tchau, Joelma. Lembranças à família. — digo antes de virar as costas.

Meu Viúvo - (COMPLETO)Where stories live. Discover now