QUARENTA E DOIS

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            Hugo acabou me arrastando para fora da casa enquanto meu estômago vergonhosamente roncava de fome. Ele não quis informar para onde iríamos, mas pelo menos dessa vez não me vendou. Durante o caminho, ele me explicou o motivo das ligações que vinha recebendo:

— Todas essas ligações, são com o meu advogado. — começa enquanto dirige. — Eu já te contei que a família da Jaque tentou me culpar pela morte dela, certo?

— Sim.

— As investigações foram reabertas. Ainda estou tentando entender o porquê de isso estar acontecendo, mas, basicamente, eles querem que eu seja preso e pague pela morte dela. Eu estou vendo o que posso fazer para evitar isso. Agora que eu encontrei vocês... A última coisa que eu quero é ficar longe.

— Por que não me contou isso antes?

— Fiquem com vergonha. — admite. — Não fazia ideia do que você ia pensar. Aliás, não faço ideia do que você está pensando.

— Quer saber o que estou pensando?

— Por favor. — seus olhos não deixam a estrada um segundo.

— Estou pensando em como o meu namorado é um homem incrível que não deveria estar passando por isso. Que o que aconteceu é uma fatalidade e que vamos passar por isso. Juntos. — ele afaga meu joelho por um breve momento. — Eu te amo, Victor Hugo e não há nada nem ninguém que possa mudar isso. Eu estarei ao seu lado.

— Obrigado, meu amor. As suas palavras me tranquilizam de uma forma que só consigo me chamar de burro por não ter te contado antes. Com certeza estaria me sentindo tão bem quanto estou me sentindo agora esse tempo todo.

— Sempre pode contar comigo para ser sua animadora pessoal. — brinco tentando evitar o assunto que eu sei que ele quer saber. Não é que eu não queira contar, é que é doloroso demais.

— Agora você pode, por favor, me explicar por que não quis denunciar aquela jararaca?

— Então... — respiro fundo antes de começar. — é horrível para mim admitir isso, mas eu tenho muito medo dela. Medo do que ela poderia fazer comigo e, principalmente, com o Léo.

— Como assim?

— Na noite da morte do Mauro, eu deveria estar no carro, era o meu carro. Toda terça, eu ia ao mercado a noite, mas o Léo estava doente, então resolvi ficar em casa. Estava chovendo bem forte, aquela típica tempestade de verão de São Paulo e o carro do Mauro não estava pegando. Léo estava com febre e a farmácia não quis fazer entrega de medicação, daí ele foi buscar no meu carro. — o nó na minha garganta não é o suficiente para me impedir. — Tinha uma ladeira para voltar pra casa. Hugo, eu tenho certeza que escutei dois policiais conversando sobre os freios terem sido cortados. No relatório, diz que foi a chuva que deixou a rua escorregadia, mas eu sei o que eu ouvi. Sabotagem. Essa palavra é simplesmente o meu pesadelo desde aquele dia.

— Eu sinto muito, meu amor.

— Eu não sou burra. Sei que eu e o meu filho tínhamos nossos direitos, mas não quis entrar numa briga e correr o risco de perdê-lo. O Léo é o meu bem mais precioso. — por algum motivo, não consigo encará-lo. — A Joelma é uma pessoa claramente perigosa, recebi uma ligação dela perguntando sobre as promoções do mercado. Ela nunca tinha pisado em um mercado na vida, Hugo. Eu expliquei a ela que Mauro tinha ido a farmácia com o meu carro e que eu não tinha ido até o mercado. Ela ficou muito nervosa e desligou dizendo que precisava falar com o filho. — relembro as cenas em minha mente como se estivesse acontecendo neste momento. — Joelma também é uma manipuladora covarde que sequer chorou no enterro do filho. No meu pior momento, quando Mauro se foi tão de repente, me disse que eu precisava assinar alguns documentos a respeito do velório, enterro, do seguro, que por ele ser casado, deveria ser assinado por mim... Depois descobri que ela me fez assinar documentos onde eu abria mão de tudo o que era meu, tudo o que o meu marido certamente queria que ficasse conosco. — alguma lágrimas teimam em descer pelo meu rosto.

— Puta merda! Ela é pior do que eu pensava. Quem pensaria tão friamente durante o velório do próprio filho?

— Nossas contas foram zeradas antes mesmo que eu pensasse em qualquer coisa. Mauro tinha dívidas, mas eram coisas pequenas se comparado ao que tínhamos. As únicas coisas que ficaram comigo, foram joias, roupas... Itens pessoais que usei para nos manter o máximo que consegui. Não era muito, mas foi o suficiente enquanto eu procurava emprego.

— Eu sinto muito. — Hugo segura uma das minhas mãos.

— Mesmo sabendo o que ela tinha feito, tentei conseguir a ajuda dela. Pensei que por um momento ela poderia pensar ao menos no meu filho, mas eu estava enganada. Se eu procurasse um advogado, não seria difícil reaver o que era nosso.

— Ela te encurralou em um momento difícil e traumático.

— Sim, mas o que eu conseguiria em comparação ao que ela tem, é quase nada. Mauro e eu vivíamos bem, mas nada pomposo como ela. Era confortável e o suficiente para nós. — comento. — Com o dinheiro e a influência dela, meu filho podia ser tirado de mim. Eu sei que todos dizem que juiz algum tira o filho de uma mãe, mas essas pessoas não sabem do que ela é capaz para conseguir o que quer. Eu sei. A minha melhor arma contra essa mulher, é ignorá-la. Se eu for atrás de denunciá-la, tenho certeza de que isso só agravará minha situação.

— Me desculpa ter insistido nisso. Agora eu te entendo.

— Não tem problemas.

— Mas, meu amor, quero que saiba que você o Léo, para mim, são o pacote completo. — seu sorriso é grande e verdadeiro — Quero os dois e tenho como meta cuidar de vocês da melhor forma possível. Farei tudo ao meu alcance para mantê-la longe de vocês.

— Obrigada. — aperto sua mão. — Eu quero que nós dois possamos ser sinceros um com o outro. Prometo não esconder nada importante de você de novo.

— Tudo bem. Eu também prometo. — beija o dorso da minha mão. — Chegamos.

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Beijos purpurinados,

Kami

Meu Viúvo - (COMPLETO)Where stories live. Discover now