43 - Ella

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Encarei o cheque em minhas mãos como se ele fosse algo que nunca tinha visto, não que eu já tenha visto um cheque apenas assinado e sem valor entregue a uma pessoa que se acha não ser confiável. Passei os dedos sobre as linhas, o nome do banco e por ultimo sobre a rubrica abaixo. O que eu deveria fazer?

Minha maior motivação é com certeza sair desse hotel, só poderei fazer isso sem problemas quando pagar Lara... esse cheque seria minha libertação, não seria? Bastava entregar o cheque com o valor. Mas por que eu não conseguiria fazer isso?

Mas e se fizesse? E se eu pegasse o cheque e entregasse nesse momento e finalmente me libertasse? Eu iria pra onde!? De jeito nenhum voltaria a morar com mamãe. Minha única opção seria vovó. Mas a ideia não me agradou muito. A cidade de vovó era minúscula e não me parecia muito agradável morar em um local em que o sinal de telefone não chega direito.

Deixei o cheque dentro do único livro que havia no quarto: o livro que Miguel me deu quando nos vimos na livraria. Fechei a capa e me peguei a observando. Por que ele tinha que ser assim? Tão perfeito... pra mim?

Por que ele tinha que me dizer que estava se apaixonando por mim!? É possível amar alguém que não te ama? Não, não é . Isso é doentio.

Eu não o vi no bar hoje. Não o vi ontem e nem na semana passada. Ele havia sumido e em vez de alívio, me senti angustiada. Como se faltasse algo. Eu o procurava o dia todo, mas ele nunca estava por aqui. Na verdade, eu nem sei o que ele estava fazendo aqui quando me tirou do quarto de outro homem.

- Ahnn! Que vergonha! - Abaixei minha cabeça entre os travesseiros e deixei a memória da última noite que o vi me consumir. - Como sou burra, burra! O que estava pensando, miss universo? Ia mudar de profissão?

É, talvez ir morar com vovó não seria uma péssima opção, talvez eu esteja precisando de ar natural, verde e galinhas no quintal.

Olhei o relógio do meu celular e suspirei. Eram duas da manhã e eu não conseguia dormir.

Peguei a única fonte de distração do quarto e comecei a reler as páginas do livro de capa vermelha, mesmo sabendo que iria me martirizar por isso depois.

Li algumas páginas quando o sono veio, mas para meu desespero, alguém bateu na porta. Mentalmente comecei a rezar e fazer pedidos silenciosos, mas meu telefone apitou uma mensagem.

' Está frio aqui fora, abra rápido, por favor'

Era Miguel.

Espera...

Era Miguel?

Saltei da cama e me pus em frente à porta, não poderia ser ele... ele não me odiava?

- Ariella, você já sabe que sou eu, abra a porta. - Ele resmungou.

Finalmente destranquei a porta e encarei Miguel me encarando de volta. Ele me olhou lentamente de cima a baixo e parou no meu pijama simples.

- Onde está aquele pijama ridículo seu?

Desde que mudei para cá, não tenho mais um banheiro privado, o banheiro aqui é compartilhado e me recuso a sair de noite para fazer xixi vestida de panda ou gatinho.

- O que está fazendo aqui? - Perguntei sem entender.

- Vim te ver. Posso entrar?

O muito que Ella senteWhere stories live. Discover now