54 - Ella

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- O que eu to fazendo com a minha vida?

Eu certamente não tinha maturidade para isso. Eu deveria fazer o que?

Meus pés estavam tremendo de nervosismo e eu não sabia como controla-los. Eu estava ansiosa.

E se ele estiver lá?

E se ele vier conversar comigo?

Eu não deveria ter aceitado isso.

Parei na porta da escola e forcei meus pés a andarem. Eu poderia vê-lo como uma pessoa normal e fingir que não gosto dele.

Haviam algumas pessoas nos corredores, mas eu apenas sorri para elas antes de entrar na sala de música.

-- Você trabalha aqui? - Uma mulher me pergunta na porta. Ela parecia duvidar da ideia.

-- Sim, me chamo Ariella, sou a nova professora de música.

-- Ariella? -- Ela arregalou um pouco os olhos antes de sorrir. -- Miguel me avisou que você viria, mas não pensei que fosse hoje.

-- Algum problema?

-- Não, claro que não. Estamos terminando a pintura, mas a sala de instrumentos já está pronta, só a tinta que ainda está um pouco molhada, espero que não se importe com o cheiro, mas as janelas estão todas abertas como pode ver.

Ela me da passagem para que eu entre e eu passo por ela para ver o resultado. Por um instante não consigo entender muito bem os desenhos, mas quando me aproximo as formas se tornam claras. Era como se a parede estivesse revestida por aqueles azulejos portugueses azuis. Cada detalhe fazia parecer que era de verdade. Eram pequenos desenhos do fundo do mar. Contos folclóricos e outros detalhes que me prenderam.

-- Ficou incrível não ficou? Ele que fez todo o esboço.

-- Miguel?

- Sim.

Droga, aquilo ficou perfeito demais para ter sido feito por mãos humanas.

-- Bom, vou deixar você trabalhar. Qualquer dúvida me chame. Estou ali do lado ou por aí.

-- Claro, obrigada.

Tentei não encarar os desenhos quando a moça que nem perguntei o nome saiu. Eu não precisava lembrar dele, apenas afinar instrumentos e trocar cordas.

Meu olhar foi direto para o personagem principal da sala. O piano que estava me convidando para encostar nele. Era um clássico piano preto e eu realmente precisava tocar algo nele. Me sentei e deixei que perdesse meu tempo nele. Eu estava com saudades disso.

Depois de jogar tempo fora, realmente fui ao trabalho. Me sentei no chão mesmo e enfileirei os violões, violinos, cavacos, guitarras e todos os instrumentos de corda presentes naquela sala. Não eram poucos e provavelmente precisaria de mais um dia para terminar aquilo. Bom eu teria muito que me divertir.

Peguei o primeiro e retirei as cordas com a ajuda da manivela que eu mesma trouxe. Sorte que trouxe a minha senão minha mão estaria doendo nos primeiros minutos. Terminei de retirar e demorei um tempo para colocar as cordas. Logo estava afinado e pronto para tocar.

Eu não era muito boa em tocar violão. Na verdade eu era péssima, sabia o básico apenas, mas me faltava treino. Tentei arriscar uma música, mas meus dedos sempre abafavam cordas erradas. Mas até que não saiu tão ruim.

-- Tem algum instrumento que você não toque?

Me virei em direção da porta surpresa com o tom de voz que escutei. Lá estava ele. Escorado no batente da porta com os braços cruzados e me observando dedilhar as cordas. Eu logo parei o que estava fazendo e ele entrou na sala. Miguel estava lindo e parecia que hoje fez de propósito só para me magoar mais ainda. Ele estava todo de preto. Mas os detalhes de tinta em sua roupa se destacavam como um charme, Existia tinta inclusive no seu cabelo, pude observar quando ele se sentou no banco do piano.

O muito que Ella senteWhere stories live. Discover now