53 Miguel

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- Você bebeu demais por hoje, Miguel. - Lucas resmunga no telefone.

- Você nem está aqui.

- Não, mas Isa esta. Eu posso mandar ela ir aí e tirar essa garrafa da sua casa. Você não pode beber.

- Se você não me contasse. Eu nunca saberia. - Resmungo. - Você ligou pra que? Me dar lição de moral que não foi.

- Nossos pais acabaram de chegar aqui na Noruega. Isa vai vir no fim de semana com a mãe dela, por que você não vem também?

- Deus me livre do frio que faz aí.

- Você precisa desestressar. Esquecer de tudo por um tempo. Traga Maria. Ela vai gostar daqui.

- Eu tenho trabalho aqui, Lucas. A viagem em família vai ficar pra próxima.

- Você precisa maneirar essa vida sua. Você não pode...

- Tchau. Lucas.

Desligo na cara dele e volto a me jogar no sofá. Eu nunca fiz isso antes. Nunca desliguei na cara do meu irmão. Provavelmente minha consciência vai pesar amanhã e ligarei pedindo desculpas, mas hoje não. Eu não quero receber lição de moral sobre coisas que minha mente está cansada de repetir.

Eu acabei de chegar de uma conversa com meu advogado e ele simplesmente disse que as chances de Laila passar para um regime domiciliar é muito baixo. Isso de certo é algo sensato considerando seu crime, mas ela ainda tinha uma filha para cuidar.

Maria não estava comigo hoje. Sua tia vai passar a semana com ela. Isso será bom. Ter um tempo para pensar. Ou talvez pensar demais seja ruim. Ruim quando ela vinha a minha mente.

Eu preciso dormir. Amanhã iria a escola cedo. Pintar paredes me pareceu mais agradável do que chorar no sofá.

... ... ...

Eram apenas oito da manhã quando cheguei a escola. Haviam somente alguns mestre de obras andando pelo lugar e arrumando os últimos detalhes. O lugar já me parecia outro totalmente diferente. Entrei na sala de artes e já comecei a fazer o que mais amava... espalhar minhas tintas pelo chão. Eu simplesmente amava aquilo. Eu realmente poderia ficar o dia todo fazendo isso e esquecer do mundo lá fora.

A parede logo se apresentou em uma tela em branco e eu tinha algumas ideias para ela. Tempo depois eu já estava com metade de um parque de diversões pintado na parede.

-- Isso parece muito conceitual. - Alguém diz ao meu lado.

Reconheço a voz, mas eu precisei me virar para acreditar em quem era.

-- Você está aqui desde quando? - Will pergunta enquanto arrasta uma cadeira onde se senta para observar a pintura de perto.

-- Não faço ideia. O que está fazendo aqui?

-- Fui para sua casa, você não estava lá.

-- E como me descobriu aqui? - Pergunto com minha concentração na tinta azul clara que estava aplicando na parede.

-- Liguei para seu irmão.

-- Legal isso de você ligando para minha família para me procurar.

-- Ah fala sério, Miguel. Eu te procurei com tanto carinho e você faz essa desfeita?

-- O que você quer?

Finalmente me viro para ele esperando por respostas. Eu realmente não queria dialogar com William, não depois de tudo.

-- Eu vi Ariella ontem.

Ah que ótimo.

-- Que bom.

-- Ela estava jantando com um cara e não era você.

Eu não acredito que Will me procurou até aqui para saber se Ariella estava solteira. Não sei o que me deixou com mais raiva, isso ou o fato de Ariella estar jantando com outro cara. Provavelmente o pai do bebê... mas eu deveria ficar feliz por isso, certo? Sinal de que o bebê vai ter um pai presente, diferente de Maria...

-- Que bom.

-- Você me escutou? - Ele resmunga quando viro minhas costas para ele e continuo a misturar algumas cores. -- Sua namorada estava com outro cara, sorrindo pra ele em um jantar.

-- Nós terminamos, Will. Mesmo isso não sendo da sua conta, deixe-a em paz. Ela tem uma razão para estar com ele.

-- Bobagem, ela não gosta dele.

Eu não respondo. Não precisava responder. Eu sabia que Ariella não gostava dele. No fundo eu acreditava que ela gostava apenas de mim, mas agora nem sei mais.

-- Por que vocês terminaram? - Ele insiste.

-- Nós não somos amigos. Por que está fingindo o contrário?

-- Eu não sou seu amigo, não estou fingindo isso. Eu sou amigo de Ariella e quero saber o motivo dela estar se arrastando por um idiota que não seja você. Eu não quero que ela caia em lábia de outro retardatário.

-- Se você é amigo dela, então pergunte a ela o motivo.

-- Foi por causa dos seus livros, não foi? Ela descobriu que no inicio você só estava a usando.

Sim. Também, mas eu não diria isso.

-- Ela está grávida. -- Eu finalmente solto. Me viro para ele e meu olhar é o que basta para que ele entendesse o resto.

Will se cala. Ele nunca se calou na vida. Nunca ficou sem palavras pois ele sempre dizia o que vinha na mente, mas nesse momento nada pareceu passar por ela. Eu logo me arrependo de ter dito isso a ele. Isso não era assunto meu, não me convinha contar algo que talvez Ariella não queira divulgar.

-- Vai embora, William, por favor. -- Peço em tom baixo. Eu não queria conversar.

Ele aceita com um aceno e se levanta.

-- Ela está grávida, não presa a ele. Seria uma troca justa. Você também é pai solteiro.

-- Foi escolha dela, não consegui fazer nada.

... ... ...

O muito que Ella senteWhere stories live. Discover now