O muito que Ella sente

56 Ella

-- O que eu deveria ter dito? -- Perguntei a vovó no telefone.

-- Não, Ariella, você deveria ter dito 'não'. Só isso.

-- Mas vovó, o restaurante estava cheio de gente, eu não queria passar a vergonha de recusar. E se alguém gravasse e postasse na internet igual aquele vídeo da praça de alimentação?

-- Que vídeo?

— Aquele que o garoto pede a menina em casamento em uma praça de alimentação. Ela recusou e caiu na internet.

— Bom, você recusaria em um restaurante chique.

— Vovó, você não pode ficar feliz por mim?

— Não, não posso. Você não gosta dele.

— A gente aprende a gostar. Ele é pai do meu filho... eu não quero ser mãe solteira. Eu não sei ser mãe, vovó.

— Bom, você tem razão, não sabe mesmo. Mas ele também não sabe ser pai.

— A gente vai aprender juntos.

— Você vai se arrepender disso pelo resto da vida. Você sabe né?

— Eu sei.

Eu já estava arrependendo nesse exato momento.

— Bom, eu vou desligar, meu táxi chegou. Até mais, vovó.

— Juízo nessa cabecinha sua, Ariella. Juízo.

— Tenho de sobra.

Desligo a ligação e entro no táxi que Diego havia chamado para mim. Bom, ele havia me dado o número pelo menos.

— Você vai pra onde? O trânsito tá meio parado nessa região agora.

— Eu vou em direção do centro. Teve algum acidente?

— Não ficou sabendo?

— Não, o que?

— Aquele jornalista filho do milionário que comprou um prédio no centro acabou de capotar o carro.

— Capotou o carro? Ele está bem?

— Não se sabe nada ainda. Levaram ele para o hospital, mas não tiraram o carro do caminho ainda.

— Espero que ele fique bem.

— Gente rica não morre fácil assim, menina. Eles têm dinheiro de sobra pra comprar outra vida.

— No final dinheiro não é tudo.

— É a realidade. Você quer ouvir alguma música enquanto esperamos?

— Não, está tudo bem. O que o senhor quiser.

— Bee Gees

— Ah Eu amo. Pode colocar, por favor.

Meu telefone começou a tocar e o motorista logo percebe pois abaixou o som. Eu atendo e uma voz que não conheço fala.

— Ariella?

— Sim. Quem é?

— É a Isa. Eu tô no... você está com Maria?

— Não, Maria está passando alguns dias com a tia. Aconteceu alguma coisa.

— Miguel sofreu um acidente, eu estou sozinha no hospital... eu não sei o que fazer... Lucas, Bel... os pais deles estão todos na Noruega. Eu não sei o que fazer.

Acidente!?

Não, ele não poderia ter capotado o carro, não, por favor.

— Qual hospital você está?