O muito que Ella sente

44 Ella

Acordei no outro dia com uma sensação estranha na mente. Eu estava me sentindo perdida quando me sentei e rodeei o cômodo minúsculo com olhar. Logo minha mente viajou para noite anterior e me lembrei porque estava com essa sensação de vazio. Miguel.

Meu telefone apitou no raque e notei que era mensagem da operadora me pedindo pra colocar créditos. Ótimo. Peguei o aparelho e o conectei com o Wi-Fi para abrir minhas notificações. Meu coração saltou um pouco quando vi mensagens de Miguel.

"Nao consegui te dizer ontem, mas Minha mãe quer falar com você, procure ele, por favor"

O que ela queria falar? Provavelmente me dar um sermão sobre largar empregos do nada.

'Você sabe sobre o que?'

'Assunto do seu interesse'

Ele respondeu.

Certo. Eu podia lidar com Isso.

Andei até meu guarda roupa minúsculo e tirei um vestido de lá. Era preto com estampar geométricas minimalistas, eu gostava de como ele me vestia.

Eu iria encontrar com ela agora de manhã antes do início do horário do almoço do hotel.

... ... ...

Eu sabia que Charlotte ia na escola sempre na parte da manhã... as vezes a tarde, mas dei sorte de encontra-la lá quando cheguei. Ela sorriu ao me ver e veio logo me abraçando como se me conhecesse por longa data.

- Eu tenho uma proposta pra você. - Ela diz antes de qualquer coisa.

- Pode falar.

- Eu comprei a escola de Mia. O prédio pelo menos.

Não sabia como reagir a isso. Por dentro estava apenas surpresa por ela falar tão naturalmente que comprou uma escola.

- Vocês conseguiriam fechar a escola?

- Sim, bom, aquilo não era uma escola de verdade, era um hospício infantil. Só fiz um favor para as crianças de lá.

- Sinto muito por Maria. - O que mais eu poderia dizer?

- Ela está em uma nova escola, está tudo bem. Mas o fato é que eu vou abrir uma nova escola. Só que eu preciso da sua ajuda para essa.

- Não entendo.

Ela sorri mais ainda e me convida para sentar em um banco perto do parquinho.

- Escola de música, Ariella. Eu preciso de alguém que me auxilie e me ajude a organizar. Não quero me intrometer na sua vida, mas Miguel me disse que você não está ganhando muito bem. Eu pensei que você poderia trabalhar em horário integral.

- Isso é um pouco impulsivo, eu não tenho nem o ensino médio.

- Isso não será problema. Vamos te dar total apoio nos estudos se quiser continuar. Você terá horário pra fazer aulas e se quiser um ensino superior, nossa equipe tem programa de bolsas. Os funcionários que trabalham para nossos programas recebem benefícios que iriam te ajudar, inclusive o de moradia.

Fiquei em silencio por um tempo até processar tudo o que foi dito. Trabalho? Moradia? Bolsa de estudo!? Isso seria minha chance! Isso seria a minha chance de mudar de vida! Eu poderia sair do hotel!

O impacto da realidade caiu sobre mim. Não, eu não poderia sair do hotel... as fotos... a dívida...

Mas a dívida eu poderia quitar com o cheque de Miguel, não poderia?

- Eu admiro muito o seu trabalho, Charlotte, mas no momento eu vou ter que negar.

Ela fecha um pouco o sorriso e segura minha mão na dela.

- É por causa do Miguel? Não deixe que ele interfira nos seus assuntos profissionais, Ariella.

- Oh não, eu e Miguel não temos nada demais. - Digo rápida demais. -- O problema é que eu tenho alguns assuntos para resolver no meu emprego atual antes de abandona-lo.

- Assuntos? No hotel? Tem certeza que Miguel não tem nada a ver com isso?

Por que ele teria?

- Oh não, Miguel não tem nada a ver com isso, eu receio ter que negar por pendências que tenho a resolver.

- Bom, se um dia resolver voltar... nossas portas estão abertas. - Ela diz desanimada.

Por mais que eu ainda não pudesse aceitar, fiquei feliz em ter um lugar para correr quando finalmente conseguir sair do hotel.