58 Ella

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Eu estava digitando algumas cifras no computador enquanto dedilhava no violão. Fazia tempo que eu não tocava então estou precisando de mais treino do que pensei que precisaria. Aos poucos pegava o jeito, mas não era tão boa quanto era no piano.

-- O que você acha quer comer, Ella? -- Diego pergunta da mina cozinha.

--Não sei, o que você fizer está bom. 

Uma coisa que Diego era muito bom era em cozinhar. Pelo menos isso ela prestava. Nossa... ele fazia um tempero que me tirava do sério. Fora os doces e aquele creme rosa que ele joga por cima de tudo... caramba. Eu amava isso.

-- Macarrão e molho então. Estou meio desanimado hoje.

-- Como você quiser.

Continuei tirando algumas músicas até quando Diego se sentou ao meu lado e começou a me atrapalhar dando mordiscadas no meu ombro.

-- Comida pronta. -- Ele diz quando eu solto um gritinho e o faço parar.

-- Me dê três minutos.

-- Nem vem Ariella. -- Ele tira o violão das minhas mãos e o coloca no suporte. -- Sua obra prima pode esperar. A minha não.

-- Ai meu Deus, quanto drama. -- Reclamo me levantando e caminhando até a cozinha. -- Pelo menos o cheiro está bom.

Os pratos já estavam postos em cima da mesa quando me sentei. Diego não era a melhor pessoa do mundo, mas pelo menos da sua comida tinha o maior apresso do mundo.

-- A aparência também.

-- O gosto também está ótimo. -- Ele sorri a se sentar na minha frente.

-- Como estão as pessoas do hotel? -- Pergunto puxando assunto.

-- Bem. Alexandre se formou na faculdade eu acho.

-- Isso é ótimo. Sinto falta dele.

-- Por que não vai no hotel fazer alguns shows de vez em quando. Você parecia gostar muito de tocar lá.

Parecia? Então eu fingia muito bem.

-- Não mesmo. Estou gostando da minha nova vida. Sem shows a noite ou boates.

-- Você prefere sossego, não é?

-- Sim, na verdade foi bom você ter tocado no assunto...

Bom, uma hora eu teria que conta-lo..

-- Quer me falar alguma coisa?

-- Sim... eu estava pensando e bom, depois da noticia que recebi ontem... eu decidi que vou morar com meus pais no interior. Eu sei que lá vou conseguir dar uma vida mais livre para mesu filhos do que teria aqui. Você me entende, certo?

-- Se mudar, Ariella? -- Ele pergunta parando de comer. -- Que noticia que você recebeu ontem?

-- Bom, não é certeza ainda, mas o médico me disse que há probabilidade de meu filho ser dois na verdade. E eu estou precisando de um tempo em algum lugar longe da cidade grande, sabe.

-- Gêmeos? -- Ele ri sem humor.

Diego se levanta da cadeira e segura um pano de prato com força.

-- Não é certeza. Eu acho que não. Gêmeos dão muito enjoo e eu não tive quase nada de enjoo.

Por Deus que não sejam gêmeos. Como vou cuidar de dois bebes sozinha?

-- Na minha família não tem caso de gêmeos, isso não é genético?

 Eu pesquisei na internet ontem a noite toda. A genética do pai não faz diferença alguma.

-- Não exatamente. Mas eu estava pensando...

-- Não, eu não posso continuar com isso...

Ele se irrita e encara o chão.

-- Você está falando sério?

-- O acordo era só um. Eu não posso pegar essa responsabilidade.

-- Acordo? O que você está falando?

Ele arregala os olhos quando percebe que falou demais. Eu me levanto e ando até ele.

-- Fala Diego! Que acordo?

Ele fica em silencio. Parece pensar em algo. Ou medita se vai dizer ou não.

-- Eu não posso ter filhos, Ariella. -- Ele sussurra segurando meus dois braços com força. -- Eu fiz cirurgia para não ter filhos e naquele dia eu ainda usei camisinha. Não menti.

-- O que?

Tento escapar de seu aperto, mas eu estava tão abobada e ele tinha muita força.

-- Eu só tinha que fazer você acreditar que o filho era meu e depois Lara pagaria pra eu cair fora do país. Eu só aceitei porque ela prometeu me botar nos Estados Unidos, mas agora... nossa. Não mesmo. Tô fora. Dois? Nem fudendo. Você é até legal, mas não vale a dor de cabeça.

Eu não sabia o que pensar. Minha mente era um turbilhão de pensamentos. Passava raiva. Desespero, magoa e principalmente... alivio. Um sentimento que não sabia se tinha o dever de sentir. Mas no fundo...

-- Falou gatinha. -- Ele joga o pano de prato em cima da mesa depois de largar meus braços que agora latejavam.

Diego saiu do apartamento batendo a porta atrás de si com um estrondo que fez o ar do meu corpo todo sair.

Meu filho não era de Diego? Então...

Meu Deus. Eu não me canso de fazer papel de idiota.

Não pira.

O muito que Ella senteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora