SEIS - Parte 1

216 43 12
                                    

Encaro o portão da hospedaria. Ainda não sei se voltar aqui foi uma boa ideia, porque ainda estou com raiva de Vanessa por não me contar nada. Mas não como direito desde que terminei a trilha com os pesquisadores ontem, meu estômago está se roendo e não estou nem um pouco disposta a cozinhar. Além disso, posso usar a internet da hospedaria para conferir alguns dos anúncios de trabalho online que tenho... E ver se acho alguma notícia sobre Lua Azul da época em que me mudei daqui. Não que eu tenha muita esperança, mas é a única coisa que consigo pensar em fazer e não consigo ficar parada.

Respiro fundo e passo pelo portão. A porta da frente está aberta, o que a essa altura nem é uma surpresa, mas mesmo assim dou a volta ao redor da casa para ir direto para a porta da cozinha. Hmm. Talvez seja uma boa me sentar aqui fora mesmo. Tenho certeza de que aqui já tem sinal do wi-fi.

Meu estômago ronca. Certo. Nada de ficar aqui fora.

Vanessa já está parada na varanda quando saio no quintal. Droga. Não vou pedir desculpas por como saí daqui ontem, mas também não faço a menor ideia do que falar. Devia ter ficado em casa e cozinhado mesmo.

— Dai! Estava preocupada!

— Com o quê?

Okay, pode ser que eu ainda esteja um tanto quanto irritada porque nem foi intencional ser tão seca assim.

Ela dá de ombros.

— Seu Carlos viu você entrando na mata ontem de tardinha. Até passei na sua casa de noite, mas você não estava lá.

Não. Estava quase me afogando naquele rio esquisito de novo.

E já que ela está agindo como se nada demais tivesse acontecido... Quer dizer, nada além de eu ser uma bêbada muito idiota – não que Vanessa saiba sobre a vodca.

Passo por ela e me sento na bancada no meio da cozinha. Vanessa levanta as sobrancelhas mas não fala nada antes de voltar para dentro também e ir olhar a panela de feijão no fogo.

Tiro meu notebook da mochila. Pelo que me lembro, a bateria está carregada, então nem vou procurar uma tomada agora.

Vanessa olha para mim de novo.

— E então, o que foi que aconteceu?

Não é da conta dela, já que ela não quis me contar nada.

Mas... Quer saber? Que se foda. Se ela quer saber o que aconteceu, então vou contar. E se Vanessa achar que estou inventando ou coisa do tipo... Bom, vai ser um incentivo para mandar tudo à merda, voltar para casa e fingir que nada aconteceu.

Abro o navegador e digito "Lua Azul notícias". Vamos ver o que aparece.

— Eu falei com Rafaela — começo, olhando para a tela. Só notícias sobre lua cheia, super lua e coisas do tipo. — Ela também não quis me falar nada. Então fui para casa, dormi um pouco, acordei e virei uma garrafa de vodca barata que estava guardando. Entrar na mata parecia uma boa ideia porque é o único lugar onde tenho a impressão de que estou conseguindo me lembrar de alguma coisa, e se ninguém vai me contar nada então eu vou dar um jeito de me lembrar.

— Dai...

"Lua Azul cidade notícias". Vamos ver se agora aparece alguma coisa.

— Eu parei perto do rio, só que primeiro ele segurou meu pé e depois...

— Ele?

— O rio — explico. — E depois veio uma onda assassina atrás de mim e tenho certeza que me puxou para dentro da água. Mas não vi nada, só acordei na caverna do homem-cobra. Aí ele começou a brigar comigo, eu juntei minhas coisas e fui embora. E resumindo foi isso que aconteceu.

Água e Fúria (Entre os Véus 2) - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora