SEIS - Parte 3

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— Então nenhum de vocês é humano — comento.

Vanessa faz uma careta e Rafaela balança a cabeça depressa antes de suspirar.

— Não é bem assim — Rafaela fala.

Cruzo os braços e levanto as sobrancelhas. Se elas não querem me deixar ir para casa – que foi o que eu falei que ia fazer assim que terminamos de comer – então no mínimo podem dar todas as explicações.

— Eu sou humana — Vanessa conta. — Nero não. Ele é do outro lado dos véus, do mesmo mundo que Alessio.

E é claro que ela precisava soltar o nome dele de novo. Só porque eu tinha conseguido passar quase um minuto sem pensar do que aconteceu na mata.

Mas está faltando uma coisa nessa fala de Vanessa.

Olho para Rafaela.

— E você? Porque se já falou que veio aqui para apagar minha memória se fosse o caso...

Ela dá de ombros.

— Humana. Quer dizer, pelo menos eu nasci aqui, sou desse mundo. O que eu posso fazer... Digamos que são poderes que eu ganhei.

— Negociou — Vanessa interrompe.

— Se quiser entrar em detalhes, pode quase falar que eu roubei.

Elas vão dar um nó na minha cabeça.

— Então tem como alguém ganhar poderes? — Pergunto. — Estudar bruxaria, ser transformado num vampiro, num lobisomem, sei lá...

— Não!

E dessa vez eu tenho certeza de que ouvi uma risada que não foi de nenhuma das duas.

— Eu realmente acho que essas histórias começaram por causa de alguma coisa que passou pelos véus — Vanessa explica. — Alguém viu alguma coisa, sem saber exatamente o que era... Coisas desse tipo. Mas não tem nada assim.

Aponto para Rafaela, que continua encostada na parede.

— Então ela...

— Ela foi uma idiota e fez um acordo com um demônio — Rafaela fala. — Não recomendo, aliás.

Bem idiota, se ela está falando de si mesma na terceira pessoa, mas...

— Demônios.

E eu não vou surtar. Não mesmo. Porque se eu já vi um homem-cobra, um rio me segurou, tem pessoas invisíveis aqui na cozinha e eu ainda não tenho certeza do que Nero é... Demônios não têm como ser muito diferente disso. Ou muito pior.

Rafaela dá de ombros.

— É o nome que escolheram usar. E eles com certeza são a origem das histórias e tudo mais, mas não tem nada sobre inferno.

Pelo menos isso.

Onde foi que eu vim parar?

Aliás, falando nisso...

— Quem mais sabe disso?

— Como assim? — Vanessa pergunta.

— Sobre essa coisa de mundos, véus, criaturas fantásticas...

Ela olha para Rafaela e depois de volta para mim.

— Em detalhes? Nós.

Tá. Okay. Nós.

— E quem mais?

Vanessa dá de ombros.

— Minha avó? Acho que só.

Água e Fúria (Entre os Véus 2) - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now