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ANY G.

Nour serviu chá para nós duas e me fez algumas perguntas, me dando espaço para perguntar sobre ela também. E eu tentei, juro pelos céus que tentei, mas eu não pude evitar ser um tanto quanto invasiva. E mesmo com a minha curiosidade estranha, Nour respondeu tudo com muito prazer, mostrando adorar falar sobre si mesma.

Ela foi casada uma vez, mas acabou se divorciando, está atualmente solteira e não teve nenhum filho. Fez alguns papéis pequenos em filmes, mas acabou se dedicando à carreira como professora. Ela parecia ter se tornado uma mulher forte e decidida. Eu estava orgulhosa da minha irmã e era doloroso não poder dizer isso para ela sem que deixasse um clima estranho.

— Ah, eu me lembrei! — ela disse dando um tapinha na própria testa. — Já sei quem você me lembra! Seu nome é Any, eu deveria ter me dado conta logo. — riu. — Você é idêntica à minha irmã.

— Você tem uma irmã? — fingi curiosidade.

— Eu tinha. Ela faleceu quando eu tinha cinco anos. Espere um minuto, eu vou pegar algumas fotos. — ficou de pé. — Vai ver, é igualzinha a você.

Ela me deixou sozinha e eu ensaiei a minha cara de surpresa enquanto isso. Quando Nour retornou, segurava três grandes álbuns de família e os colocou sobre seu colo após sentar ao meu lado no sofá. Começou abrindo um deles até chegar em uma foto minha. Seu aniversário de três anos, eu estava a segurando no colo enquanto apontava para a câmera, tentando incentiva-la a olhar para lá.

— Ah, meu Deus, olha o meu cabe... — parei no meio da frase. O que eu estava fazendo? — Quero dizer, olha que cabelo legal o dessa época. É em que década?

— É em 1974. Você não acha que se parece muito com a minha irmã? E ela também se chamava Any. — os olhos de Nour estavam brilhando de animação. Por que aquilo estava sendo tão legal para ela?

— Pois é, somos bem parecidas. — cocei a nuca. — Mas sabia que no mundo existem pelo menos sete pessoas idênticas a você? Devo ser uma sósia da sua irmã.

— E que tem o mesmo nome que ela! — riu. — Quais as possibilidades?

— Eu posso? — apontei para os álbuns, indicando que queria ver as fotos.

— Claro! — passou-o para o meu colo. — São como a minha biografia. Minha mãe registrou cada momento importante.

Passei as fotos e tentei me controlar para não deixar meus olhos se encherem de lágrimas. Perdi muitos momentos de sua vida e o pior era que provavelmente ela mal se lembrava da maior parte das coisas que vivemos. Nour era muito pequena quando eu parti e para todos os efeitos, eu fui só uma pessoa passageira de quem ela mal sentia falta.

— Você era muito apegada à sua irmã? — perguntei como quem não quer nada.

— Sim. Brigávamos como se tivéssemos a mesma idade. — riu. — Eu sei que era muito pequena quando ela morreu, mas eu senti como se uma parte do meu mundo tivesse sumido. No início, eu não queria aceitar. Eu achava mesmo que um dia a minha irmã voltaria e que nada daquilo era real. Eu era só uma criança, não sabia como a morte funcionava. — deu de ombros. — Precisei de um pouco de terapia depois disso, mas no fim eu consegui seguir em frente.

— Tenho certeza que sua irmã iria querer que você ficasse bem sem ela.

Foi o que eu mais quis.

— A Any era a melhor. Ela tinha uma energia única e tudo parecia ficar mais colorido quando ela chegava. Era a pessoa que mais me deixava feliz.

Agora as lágrimas em meus olhos não estavam sendo controladas. Respirei fundo e passei a mão no rosto.

— Desculpe, eu sou muito emotiva. — ri sem jeito.

Estúpido Cupido! ⁿᵒᵃⁿʸOnde as histórias ganham vida. Descobre agora