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ANY G.

Enquanto dirigia de volta para a casa de Noah, eu tentava me preparar psicologicamente para gritar com os jornalistas que estavam na frente da propriedade. Nada de polícia, eu usaria até a minha força sobre-humana se precisasse. Era totalmente babaca a forma como eles sequer pensavam na sanidade mental das outras pessoas antes de ir até lá tentar pressionar o Noah por informações.

Mas diferente do que eu imaginei, o bairro estava muito calmo e tirando o carteiro que entregava encomendas, o lugar estava deserto. Isso levantava uma hipótese interessante. Teria Noah mentido só para eu achar que tinha um motivo para prestar um serviço a ele? Ele ainda iria querer que eu levasse Thor para passear quando eu entrasse na casa?

Passei pelo portão e assim que abri a porta, o cachorro veio correndo na minha direção e pulou sobre mim com o rabo abanando rapidamente. Em ocasiões antigas, eu teria morrido de pavor, mas agora eu sorri ao sentir algo aquecer em meu peito. Nunca fui muito fã de cachorros, mas aquele gigante fofo estava me amolecendo.

— Oi, Thor, eu não esqueci os seus biscoitos. — acariciei a cabeça dele.

Como se tivesse entendido, ele sentou e ficou quieto olhando para mim. Entendendo o recado, eu abri a minha bolsa tiracolo e tirei de lá o saquinho de biscoitos caninos que comprei em um petshop assim que saí da empresa. Dei alguns para Thor, que pulou de animação enquanto abocanhava os petiscos.

— Não vai comer tudo agora, vamos deixar para mais tarde. — guardei novamente os biscoitos. — Agora me mostre onde está o seu pai.

Comecei a andar pela casa enquanto Thor me seguia. Resmunguei descontente ao notar que Noah não recolheu os brinquedos do chão como eu havia pedido no post-it. Ele esperava que eu o fizesse? Pois bem, só como lição eu o obrigaria a catar cada um dos objetos enquanto eu o supervisionava. Eu estava cansada de tropeçar por aí, me sentia vivendo em um campo minado.

Quando me aproximava da cozinha, comecei a ouvir uma voz feminina cantando uma música que me era muito familiar.

— "But I can't help falling in love with you..." (Mas eu não consigo evitar de me apaixonar por você).

Travei no lugar no mesmo instante e lembranças antigas invadiram a minha mente. Elvis Presley era um dos meus cantores favoritos, sem dúvidas. Um dos melhores momentos da minha vida foi ter podido ir a um show dele antes de eu falecer. Foi uma noite mágica e inesquecível. E apesar de amar cada letra de cada canção que o rei do rock escreveu, eu tomei um profundo desgosto por Can't help falling in love simplesmente pelo fato de Lia e Nathan terem tornado esta a sua canção de amor.

E agora, como se o destino estivesse rindo da minha cara, havia uma mulher cantando essa mesma música na cozinha do homem por quem eu estava apaixonada.

Finalmente decidi entrar na cozinha e para a minha surpresa, a mulher que cantava a canção era justamente a Lia. Apesar da idade, sua voz estava em perfeito estado. Tinha alguma coisa nela que não era perfeito? E eu digo isso em um bom sentido, não estou sendo invejosa dessa vez.

Noah estava do outro lado do balcão, de frente para a sua avó. Segurava um copo com sorvete dentro e comia enquanto sorria observando Lia cantar.

— Essa música é muito bonita e a senhora canta tão bem! — Noah a elogiou.

Nenhum dos dois havia notado a minha presença.

— Obrigada, querido. Essa era a minha música com o Nathan. — soltou um suspiro apaixonado. — Que noites mágicas aquelas em que passamos dançando... — olhou para cima como se estivesse lembrando de algo.

Estúpido Cupido! ⁿᵒᵃⁿʸWhere stories live. Discover now