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NOAH U.

Eu estava em um estado pesado de sono quando senti alguma coisa me cutucando. Resmunguei, enfiando meu rosto no travesseiro e mantive os olhos fechados, mas voltei a ser cutucado, mais forte dessa vez.

— Já vou, mãe... — murmurei sonolento.

— Eu não sou a sua mãe.

Abri meus olhos ao ouvir a voz de Any e a encarei em pé ao lado da minha cama.

— Any? O que foi? — esfreguei meu rosto e sentei para olhá-la melhor.

— Eu... — ela estava claramente tímida. — Posso dormir com você?

— Que? — franzi a testa. — Por que?

— Eu sei que você não gosta de dormir com ninguém, mas eu tive um pesadelo e estou com medo de ficar sozinha. Prometo que vou ficar o mais longe possível, de costas e sem me mexer.

— Um pesadelo? — não sei se era o sono ou o pedido inusitado, mas eu estava bem confuso naquele momento.

— Sim. — assentiu.

Pensei em fazer uma piada, perguntar se ela tinha oito anos e se estava com medo do bicho-papão, mas dada a expressão de fragilidade no rosto de Any, eu deduzi que ela estava realmente com medo e que eu não deveria cometer a insensibilidade de brincar com suas fraquezas. Muitas pessoas tem medo de pesadelos depois de adultas, certo?

— Bom... — olhei ao redor para a cama.

Thor estava na parte de baixo, além disso, a cama era enorme, então não seria tão desconfortável. Nós não íamos ficar agarradinhos como um casal, eu não precisava me preocupar em elevar o nível de afeto dela.

Ajeitei-me mais para o lado e deixei um espaço livre para ela, depois fiz um sinal indicando que ela poderia se deitar. Any deu a volta na cama, levantou o cobertor e se aconchegou ao meu lado. Nós dois nos deitamos e no primeiro momento ficamos em completo silêncio, ambos encarando o teto sem olhar um para o outro.

— Com o que você sonhou? — perguntei para quebrar a tensão.

— Eu sonhei que tinha um demônio no quarto e que ele estava tentando me persuadir a fazer coisas ruins.

— Mas ele não fez nada de ruim com você?

— Não. Mas a presença dele era muito incômoda e perturbadora, a temperatura do quarto despencou só por ele estar ali. Além disso, ele tocou em pontos delicados da minha vida com o intuito de me fazer sentir mal comigo mesma.

— Isso parece terror psicológico.

— É. Eu acho que foi isso.

— E ele não te machucou mesmo?

— Não. Na verdade, ele me beijou antes de ir embora.

— O que? — estranhei.

— Eu também não entendi essa parte. — riu suavemente.

— Mesmo que tenha sido ruim, não era real. E o lado positivo dos sonhos é que a gente esquece eles depois de algumas horas.

— Vai ser difícil esquecer isso. — falou baixo, quase num sussurro.

Olhei sutilmente para ela e vi um vislumbre de tristeza. Alguma coisa me dizia que havia mais do que Any me contou. Talvez não tivesse sido só o sonho que a deixou agitada naquela noite. Mas se ela não iria me contar nada além disso, eu respeitaria e não faria perguntas.

— Há quanto tempo você tem o Thor? — perguntou talvez para mudar de assunto e se distrair.

— Três anos. Eu não costumava gostar de animais, acredita?

Estúpido Cupido! ⁿᵒᵃⁿʸOnde as histórias ganham vida. Descobre agora